O Futuro dos Filhos

Publicado por Carlos Bitencourt Almeida 8 de fevereiro de 2011

Todos os pais que são de fato responsáveis procuram proporcionar o que consideram o melhor na educação dos filhos. Como educar os filhos e filhas em cada etapa de seu desenvolvimento permanece um assunto polêmico. A cada século as teorias variam. Há cem ou duzentos anos atrás as teorias pedagógicas eram em muitos aspectos diferentes das atuais. Como vivemos no tempo presente tendemos a achar que as idéias evoluíram e que hoje a ciência e a humanidade tem uma melhor compreensão do que é necessário e útil. Só que o nosso tempo também passará. Daqui a duzentos anos será que as idéias serão as mesmas das atuais? Ou seremos olhados do mesmo modo como olhamos as teorias de duzentos anos atrás?

Para viver é preciso muita humildade. O conhecimento do ser humano é o que há de mais profundo, difícil e misterioso. Ao mesmo tempo não podemos renunciar à ação. Aqueles que são pais são pressionados momento a momento pelo comportamento de seus filhos e, bem ou mal, certo ou errado, precisam assumir atitudes, cuidar, proteger, corrigir, educar.

Quando somos crianças pequenas tendemos a olhar nossos pais como figuras poderosas, sábias, muito além do alcance de nossa compreensão. Quando nos tornamos adultos, sabemos, em maior ou menor grau, o tamanho de nossa fragilidade. Somos carentes, vulneráveis, carregamos frustrações nem sempre solucionáveis, somos incapazes de certos atos, seja porque não fomos bem educados, seja porque simplesmente não conseguimos. Conheci mães que não receberam carinho corporal de seus pais e que por isto tornaram-se incapazes de proporcionar aconchego a seus filhos. Existem filhos que reagem à frustração com raiva, acusam, ficam agressivos. Tem outros que insistem, insistem e às vezes conseguem quebrar o bloqueio dos pais e aos poucos se aconchegam, a barreira cede. Então a mesma mãe que não consegue receber algum dos filhos, recebe outro, que a venceu pela insistência e pela meiguice. Por estranho que possa parecer existem filhos que conseguem ‘educar’ os próprios pais e ajuda-os a superarem certas dificuldades que carregam.

Neste exemplo que citei eram mães responsáveis, de fato preocupadas em proporcionar o melhor a seus filhos, mas esbarravam nas próprias limitações, na carência vinda do passado.

Existem pais que tiveram em muitos aspectos relações ruins com os próprios pais e repetem com seus filhos o mal que receberam. Infligem neles as mesmas marcas dolorosas. Já outros, intensamente conscientes do mal que receberam dos pais, conseguem conter o veneno dentro deles mesmos, purgá-lo de outros modos e dão aos filhos aquilo que não receberam e que fez tanta falta.

Com freqüência ouvimos que o fracasso dos filhos deve-se a deficiências na educação que receberam. Se o filho tivesse sido bem educado, recebido amor e limite na medida certa, sido orientado com sabedoria, não seria hoje este ser humano anti social, perverso, neurótico, psicótico, improdutivo profissionalmente, desonesto. Os pais às vezes se culpam quando vêem nos filhos estes fracassos, se envergonham dos filhos e se perguntam: ‘Onde foi que eu errei?’

É inegável que uma má educação deixa marcas. O filho mimado, tratado com violência, humilhado com freqüência, vítima de abuso sexual, com certeza carregará marcas vida afora. Mas não podemos nos esquecer que uma criança não é uma página em branco. Vindas das profundezas misteriosas da natureza humana, os filhos vítimas de uma má educação também podem superá-la, totalmente ou quase. Uma infância traumática pode gerar conseqüências totalmente diferentes na vida adulta, dependendo da criança que a recebeu. Filhos dos mesmos pais, igualmente maltratados, podem se tornar adultos totalmente diversos. Uns profundamente doentios e outros renascidos para uma vida solidária, construtiva, amorosa, após terem vivido uma infância infernal.

Os dons não são necessariamente transmissíveis através da educação. Pais inteligentes, cultos, amorosos, que souberam educar seus filhos, podem se surpreender ao verem seus filhos adultos às vezes com baixa capacidade intelectual, com condutas imorais persistentes, com poucas capacidades produtivas. Do mesmo modo que uma infância traumática pode ser superada de modo triunfante por alguns seres humanos, uma ótima educação pode deixar resultados medíocres em outras pessoas. Cada criança é como uma semente de uma árvore desconhecida. O bom agricultor ajudará esta árvore crescer e desenvolver seu potencial. Tornar-se-á uma árvore imensa, uma árvore frutífera ou um espinheiro. Da mesma forma que precisamos de humildade para perceber nossos defeitos e tentar corrigi-los, de modo que prejudiquemos o menos possível a nossos filhos, temos que ter serenidade ao perceber que fomos incapazes de transmitir a um dos filhos, ou a vários, aquilo que nós temos de melhor. O resultado de nossos melhores esforços, feitos com sabedoria, competência e amor, não nos pertence. Cada filho assimilará ou não, e de modo particular, aquilo que doamos.

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