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.As gentes
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“Coração de gente — o escuro, escuros.”
“O que lembro, tenho.”
“Em Diadorim penso também. Mas Diadorim é minha neblina”
“Quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a ideia e o sentir da gente.”
“Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem o perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.”
“O senhor não duvide – tem gente, neste aborrecido mundo, que matam só para ver alguém fazer careta… vem o pão, vem a mão, vem o cão.”
“O senhor saiba: eu toda a minha vida pensei por mim, forro, sou nascido diferente. Eu sou é eu mesmo. Diverjo de todo o mundo… Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa.”
“Uma coisa é pôr ideias arranjadas, outra é lidar com país de pessoas, de carne e sangue, de mil-e-tantas misérias… Tanta gente – dá susto de saber – nenhum se sossega: todos nascendo, crescendo, se casando, querendo colocação de emprego, comida, saúde, riqueza…”
“Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam.”
“Mire veja: o que é ruim, dentro da gente, a gente perverte sempre por arredar mais de si. Para isso é que o muito se fala?”
“As pessoas, e as coisas, não são de verdade! E de que é que, a miúde, a gente adverte incertas saudades? Será que, nós todos, as nossas almas já vendemos?”
“A colheita é comum, mas o capinar é sozinho.”
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As veredas
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“O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.”
“Tem horas em que penso que a gente carecia, de repente, de acordar de alguma espécie de encanto.”
“Sozinho sou, sendo, de sozinho careço, sempre nas estreitas horas – isso procuro.”
“Eu careço que o bom seja bom e o ruim ruim, que dum lado esteja o preto e do outro o branco, que o feio fique bem apartado do bonito e a alegria longe da tristeza! Quero todos os pastos demarcados. Como é que posso com este mundo? A vida é ingrata no macio de si; mas transtraz a esperança mesmo do meio do fel do desespero. Ao que, este mundo é muito misturado.”
“O rio não quer ir a nenhuma parte, ele quer é chegar a ser mais grosso, mais fundo.”
“Tempo que me mediu. Tempo? Se as pessoas esbarrassem, para pensar – tem uma coisa! -: eu vejo é puro tempo vindo de baixo, quieto mole, como a enchente duma água… Tempo é a vida da morte: imperfeição.”
“Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas.”
“O senhor sabe o que silêncio é? É a gente mesmo, demais.”
Comentários
Parabéns!! Pela forma apresentada. Li o livro por duas vezes, sempre descubro maravilhas…, mas é muito bom ler como está demonstrado.
Simplesmente magnífico
JGR, inventor dos sertões, Geraes. Não sabia de tudo, mas desconfiava…
Muito bom. Guimarães Rosa é um sábio. Um filósofo da vida! ❤️