Cupim no altar

Publicado por Antonio Carlos Santini 18 de março de 2024
igreja ruína
igreja ruína
Foto: Canosapresepi

Pobre Igreja! É cada vez mais difícil saber quem é amigo, quem é fiel. Em tempos idos, a Igreja tinha inimigos do lado de fora. “Eram inimigos infiéis”. Do pórtico para dentro, só amigos. Amigos fiéis, é claro! Hoje, já adiantado o 3º milênio, a Barca de Pedro tem quintas-colunas disfarçados de clérigos que tentam roer-lhe o casco a golpes de pua e de ideologia…

Esquematicamente, identificamos quatro diferentes “atitudes” em relação à Igreja Católica. Num extremo, os adversários. Seu lema, o de Voltaire: “Esmaguem a Infame!” Seu território, o habitual: as maçonarias, as máfias, certas academias. Não esquecer o novo e poderoso adversário: a mídia internacional, que aproveita o pequeno pecado do vigário da roça para buscar no arquivo os míseros escândalos dos últimos 40 anos. Essa “rede” de informação tem espasmos de gozo quando consegue entrevistar um desertor da Igreja disposto a arremessar, via satélite, umas pelotas de lama sobre o Vaticano…

Mais para o centro, os “indiferentes”. Alta burguesia, gente “culta”, diploma de 3º grau, bem situada na pirâmide. Quando se fala da Igreja, alçam uma sobrancelha, não gastariam duas para assunto tão pequeno!, e rebaixam um canto da boca, o direito, em geral, naquele esgar blasé de quem está acima de uma instituição falida, medieval, mumificada. Se um dia, por absoluta necessidade, tiverem de comparecer a uma missa de 7º dia, ficarão todo o tempo de pé para não esgarçar a calça de tweed no banco da capela. Durante a cerimônia, para eles sem nexo, hermética, usarão o celular para adiantar algum negócio inadiável. Mas, se puderem, não comparecerão à missa de defuntos. Inclusive a própria…

Agora, entremos na Igreja. Passemos ao lado dos amigos. Mais ou menos fiéis. O terceiro grupo reúne os “consumidores” da Igreja. Aqueles que não saberiam viver sem a Igreja de Jesus Cristo, a Igreja dos Papas, de Pedro e Lino até Francisco. Buscam a Igreja para resolver importantes problemas, como batizar os filhos – aos quais não ensinarão o Catecismo! – crismar os jovens, casar os noivos – pois não fica bem “juntar” como pagãos – e enterrar os defuntos. Vez por outra, pedir ao padre para benzer a casa que estrala de noite, dar uns conselhos ao filho drogado ou rezar uma estranha missa na agência bancária recém-inaugurada. Sabe, isso dá prestígio! Claro, aqui e ali, um livro de ouro, um bingo beneficente, uma esmolinha para os pobres “do vigário”. Dízimo, nem pensar…

Graças a Deus, há um quarto grupo de “fiéis”. São cristãos que se sentem responsáveis pela edificação da Igreja. Por sua vida, crescimento e manutenção. Gastam tempo e dinheiro com a Igreja. Agrupam-se em movimentos e comunidades. Estudam os documentos do Concílio, “ligam-se” nas orientações do episcopado, intercedem pelos projetos da Santa Mãe Igreja. Esses “fiéis” se alegram em estar juntos. Somam esforços e carismas, fé e suor, inspiração e transpiração, para estender pontes entre os homens e semear esperança em um mundo gris…

E que bom se fosse apenas isso! Se o quebra-cabeças fosse assim tão nítido! Infelizmente, existe uma quinta-coluna. São homens e mulheres – até revestidos de ministério eclesial! – que se infiltram no seio da Igreja para implodi-la. Juraram obediência ao bispo e pregam um Evangelho anômalo. Deviam veneração ao Papa, mas secretam teologias heréticas. Assumem publicamente a vida de celibato, para serviço à comunidade, e passam a contestá-lo no dia seguinte à ordenação. Se Roma fala, franzem a testa e ladram para a lua, incapazes de reconhecer a voz da própria mãe…

Naturalmente, teremos um juízo. O Juízo Final. Então, os campos ficarão bem definidos, sem colunas do meio. Enquanto não chega o dia do julgamento ou, quem sabe, o Juízo Particular, vale pena perguntar-se diante do espelho: – A qual destes grupos pertenço eu?
Afinal de contas, é bom saber QUEM SOU antes de saber PARA ONDE VOU…

 

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