Boas festas e feliz ano novo

Publicado por Sebastião Verly 29 de dezembro de 2010

Existe um bela música que diz que tropeiro só fala em burro, boiadeiro só em boi, moça só fala em namoro e velho só fala o que foi. Deve ser por isso que meus textos contando “causos” só podem ser do meu passado. Quase não escrevo sobre o futuro. Hoje vou falar dos tempos de infância outra vez. No meio em que eu vivia, ruas de terra esburacadas, sem luz e sem água, só morávamos gente humilde e simplória.

Nos dias de natal, confirmei com meu irmão esse hábito, as pessoas no dia de natal, ao se encontrarem abraçavam-se falavam ‘minhas festas” e era de se esperar que a pessoa abraçada desse algo nem que fosse um “felipe” (duas bananas coladas).

Pegando um gancho nesse costume restrito, no dia de São João na Bahia, quando lá estive, ocorria o mesmo costume: a pessoa dizia “Feliz São João” e falava “minhas festas” na expectativa de ganhar um presente. Eu mesmo ofereci alguns presentes nos quatro anos que lá passei.

Hoje é o último sábado antes do natal. O caminhão de lixo está atrasado. Mas, dois garis da guarnição (equipe de garis do caminhão) já desceram a rua correndo com seus gritos confusos, mas que prenunciam coletores pedindo presentes. A mensagem é ininteligível de propósito. Ainda há muita gente que oferece presentes. Geralmente quinquilharias quase inúteis. Outros dão um panetone ou algo para comer.

Ontem, era sexta feira, e saímos com outros colegas da Limpeza Urbana para um almoço de confraternização. Na saída do restaurante, quase 16 horas, passava com enorme atraso o caminhão coletor de lixo. Um dos coletores viera na frente mantendo os contatos como um “public relations” e oferecia até o trabalho de retirar o lixo do interior, os proibidos “guardados”, para conquistar o almejado presente, ou como ele nos confidenciou ganhar ”um por fora”.

Observamos que a guarnição só contava com 3 garis e dois deles sem as luvas de proteção. Conversamos rapidamente com o gari Relações Públicas que possui uma desenvoltura e expressão vocabular bem acima da média. Discutiu conosco esse costume que vem de longe e que mesmo nos tempos em que o serviço era feito diretamente pela Prefeitura isso sempre existiu. Mas disse que sabia que era proibido.

Ficamos ali observando e pensamos até em fotografar a retirada de mais de uma dezena de sacos de lixo do interior do restaurante. Era um exagero para o local que possui coleta diária. Estávamos ali sofrendo com o mau cheiro que exalava do lixo do restaurante e comentamos sobre os enfeites no cabelo de dois coletores bem como sobre o gari que de cabeça descoberta fazia a maior parte do trabalho de retirada. Anotamos a placa do caminhão para oportunamente levantarmos esse problema com os responsáveis. Nesse instante, percebemos que um carro pequeno e semi novo quase encostava nos garis que permaneciam na traseira do caminhão que compactava o lixo.

Como já havíamos nos apresentado como funcionários da Superintendência de Limpeza Urbana, eu pensava em advertir o motorista do carro que usava um gorro de papai noel, exigindo mais respeito para com os trabalhadores da limpeza urbana, quando percebemos o que DE FATO  ocorria: quem dirigia o carro era o quarto gari da guarnição, responsável por recolher e transportar os presentes arrecadados no dia.

Boas Festas e Feliz Ano Novo, rapaziada!

Comentários
  • Marcos Leonel 4993 dias atrás

    Parábens pela homenagem aos Garis e sirva também como resposta ao jornalista Boris Casoy, da Band, na sua crítica infeliz, a estes trabalhadora(e)s, gravada e vista milhares de vezes na internet na véspera do Natal. Pois temos de valorizar os cidadãos e seus ofícios, indiferente do valor do contra-cheque.

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