Diluir o poder

Publicado por Antonio Carlos Santini 7 de abril de 2017
diluir o poder

diluir o poder

A história da humanidade é uma história de opressão. O livro do Êxodo narra a sofrida experiência do povo de Israel sob o domínio do Faraó do Egito. Em sua onipotência demente, o senhor das pirâmides julgava que o poder concentrado em suas mãos reais lhe dava o direito de condenar à morte todos os recém-nascidos dos escravos hebreus. Não havia nenhuma instância para refrear seus instintos assassinos.

No polo oposto, porém, as tribos errantes de Israel igualmente se ressentiram da concentração de poder nas mãos de Moisés, que decidia tudo em nome delas. O fato de justificar suas propostas com a Lei escrita pelo dedo de Deus, no Sinai, não amenizava em nada o clima de submissão vivenciado pelo povo.

O inesperado salto dos regimes monárquicos para as modernas democracias ainda não conseguiu diluir o excesso de poder concentrado nas mãos dos governantes. Afinal, foi em pleno regime “democrático” que a Alemanha nazista contemplou a ascensão de Hitler e aprovou a sacralização de suas teses desumanas, levando ao extremo o abuso e o esmagamento do homem.

Não longe dali, os excessos czaristas cederam espaço à revolução comunista, que não amenizou os sofrimentos da alma russa e transformou as estepes geladas em ásperos campos de concentração.

Se focalizamos nossas lentes sobre a maioria dos chamados “estados democráticos” de nosso tempo, constatamos a permanência de uma surda luta pelo poder, com notáveis quedas de braço entre legislativo, executivo e judiciário, tendo como pano de fundo uma fétida maré de lama que borbulha da corrupção generalizada, instrumento de cooptação e de ruidosas traições. De César ao czar, do Kaiser a Bush, o cenário pouco mudou. O rótulo é democrático, mas os métodos são dragocráticos.

O noticiário confirma que o simples fato de serem adotadas eleições como mediação para a escolha dos dirigentes não reduz em nada a ânsia de poder infiltrada nos porões dos corações humanos. Uma vez alojado em seu trono, o senhor prefeito manda e desmanda. Seus eleitores são rebaixados a súditos. Sua esposa é a primeira-dama.
Eleitos para servir, os políticos dedicam-se a ditar. Daí o termo … “ditador”…

Por isso mesmo, defendemos o direito inalienável de divergir, contestar e, se necessário, pedir o impeachment do governante excessivo. Mas será sempre um caso extremo, com os inevitáveis prejuízos e as vítimas de costume. Será um mal sem remédio?

Os otimistas dizem que não. Que será possível aperfeiçoar o regime democrático, criando novas instâncias intermediárias de poder, em especial com a formação de associações de bairro, com o fortalecimento dos sindicatos, a adoção do voto distrital e, óbvio, com a educação do povo.

Os pessimistas dizem que sim. Que é um mal sem remédio. Que o homem é argila de má qualidade. Que o mais humilde filho da lavadeira, uma vez guindado à posição de mando, exigirá a limousine de luxo, desprezará a ralé e fará o mais titânico esforço para esquecer suas raízes de pobreza.

A história dirá quem tem razão. Se a esperança ou a decepção…

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