Tempo Veloz

Publicado por Carlos Bitencourt Almeida 20 de outubro de 2010
Tempo Veloz

Tempo Veloz

É freqüente ouvirmos o comentário: “este ano está passando muito rá­pido”. Todos os anos tem o mesmo tamanho. O relógio não se apressa. Quando durante uma semana vivemos muitas vezes fortes emoções, intensas e pro­fundas, temos às vezes a impressão que passaram-se 30 dias. O que nos dá a impressão do tempo passar rápido ou devagar é a intensidade do que vivemos, o quanto o nosso interior fica povoado pelo que foi vivido.

Quando temos a impressão de que o tempo esta passando rápido demais é porque a vida esta deixando poucas marcas em nos. Podemos ter uma vida monótona e repetitiva. Todos os dias se parecem muito, os fins de semana são também semelhantes entre si. Aí, quando olhamos para trás, seis meses são como uma única semana. Nada aconteceu de muito significativo, intenso, digno de ser lembrado. Quando falo de vida monótona e repetitiva, não quero di­zer necessariamente vida vazia, ociosa. Minha vida pode ser intensamente ocupada, mil fazeres todos os dias, muitos contatos com pessoas, muitas atividades diferentes. Mesmo assim ela pode ser monótona e repetitiva.

Podemos nos perguntar: gosto da vida que tenho? Tenho muitas ale­grias para recordar? Tive muitos encontros ricos e profundos com pessoas que amo, admiro? Fui capaz de aprender com os sofrimentos e dificuldades que encontrei em meu caminho? Sinto que tenho crescido em compreensão, habilidade para agir e relacionar, em capacidade de ser feliz e de amar? Se minha vida fosse terminar hoje, qual seria o saldo? Posso olhar para trás e dizer: valeu a pena, sou hoje um ser humano melhor, mais sábio,mais forte do que quando era bem mais jovem?

Eu sei que são perguntas incômodas, talvez dolorosas, para muitos de

nós. Mas são indispensáveis para aqueles que não querem um dia olhar para trás e dizer: Para que eu vivi? O que eu fiz da minha vida?

Um dia aqueles que são jovens ou estão na meia idade terão 70, 80 anos. É uma idade em que o corpo é bem mais frágil, temos menos capacidade de ação e locomoção, menos energia. Poderemos estar obrigados a uma vida com poucos estímulos exteriores. Fará então uma enorme diferença o passado que estiver dentro de nós. Será o nosso tesouro ou então nosso baú vazio.

Se cultivamos enquanto adultos nossa vida interior, nossa capacidade de pensar e sentir em profundidade, a capacidade de extrair frutos positivos mesmo das vivências dolorosas, então o tempo não terá passado tão depressa. Pode­remos olhar para dentro e ver o jardim que construímos. Poderemos continuar aprendendo, estudando, revivendo os momentos intensos, a alegria de ter amado e de amar. Nossa vida será o nosso livro, a nossa música, o alimento para o espírito.

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