Há algum tempo cresce nas redes sociais o número de grupos de cunho conservador, para usar um rótulo que se presta a mal-entendidos, que assumem uma posição crítica em relação a membros da hierarquia eclesial. Seus adversários os acusam de violência, agressividade, irreverência e radicalismo.
Não pretendo defender os métodos e os pronunciamentos de tais grupos, mas gostaria de convidar meus amigos para refletir sobre suas “justificativas”. Por que tais grupos e movimentos estão protestando?
Aqui do meu quintal, nesta roça abençoada que Deus me deu, não tenho a visão universal de que a Santa Sé dispõe para avaliar os rumos da Igreja, aliás, Noiva do Cordeiro e Corpo de Cristo, iluminado pelo Espírito Santo.
Mesmo assim, com uma visão parcial, percebo fatos e situações que poderiam justificar a reação dos “conservadores”. Senão vejamos:
1. Aqui e ali, o Santo Sacrifício da Missa é celebrado com o pão e o vinho substituídos por pipoca e cachaça. Vale reagir e protestar?
2. Um bispo vai à mídia para afirmar que o aborto provocado é um “assunto de menor importância”. Vale protestar?
3. A catequista idosa quer ensinar as crianças a rezar, mas recebe áspera reprimenda do padre “responsável”, que a acusa de fugir da “linha pastoral” da diocese, segundo a qual ela deveria falar de formação de comunidades, participação social e vida sindical. E então?
4. Um monsenhor faz uma palestra para casais idosos do Encontro de Casais com Cristo, e gasta todo o seu tempo para negar a existência de anjos e demônios, em choque frontal com a tradição e com os Evangelhos. De que lado está o capeta?
5. O padre vai celebrar na favela e chega em seu carro importado zero quilômetro. Ninguém o corrige?
6. O pároco nomeia como ministro da Sagrada Comunhão um homem que vive em aberto concubinato. Deixa passar?
7. Em muitas paróquias, a confissão individual é simplesmente impossível. Como fica o direito dos fiéis a terem acesso aos sacramentos?
8. Há muitos fiéis exasperados com homilias que são verdadeiras plataformas políticas; outros não suportam mais as guitarras estridentes e os contrabaixos trovejantes, que despertam a labirintite dos idosos e fazem sonhar com as águas calmas da velha missa em latim e a suave maré do cantochão…
9. Pregadores midiáticos expõem teorias e propostas que, se não são propriamente heresias, deslisam arriscadamente em uma fronteira tênue demais para não merecerem uma arguição da hierarquia.
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É hora de refletir: e tudo isto não é também violência e irreverência? Há outros abusos. Muitos abusos, desvios e distorções. Alguns estão irritados com esse estado de coisas e resolveram somar suas vozes antes que as pedras comecem a clamar. É por isso que eu entendo as suas justificativas, mesmo quando venha a discordar de seus métodos. Mas há limites para tudo. De um lado e do outro…
Claro que esta realidade está limitada ao campo intraeclesial, como a liturgia e o comportamento do clero, sendo raros os protestos ligados ao domínio extraeclesial, compromisso social, desigualdade econômica etc, que não parece atrair sua atenção.
Se existem outras motivações, inclusive de ordem política, só o tempo o dirá. De qualquer modo, temo que o “ódio pelo mal” traga mais prejuízos para a Igreja do que benefícios. O discernimento dos espíritos não é tarefa fácil, corremos o risco de acusar nos outros o mal que está em nós. Mais do que nunca, uma abertura ao Espírito Santo se mostra como exigência inadiável. E o amor pela Igreja deve ser um valioso critério de ação.
Em tempo: quando o senhor bispo é sagrado, a Igreja lhe dá um chapéu e um porrete. O chapéu representa a honra, o porrete, a autoridade.
Parece que os bispos estão usando de parcimônia na aplicação do báculo…
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