África e Ásia: o futuro da Igreja Católica
A Igreja Católica caminha para se tornar cada vez menos europeia e menos romana. Enquanto as comunidades católicas continuam definhando nas nações ricas da Europa, é na África e na Ásia que se abrem novas fronteiras para sua expansão.
Eis alguns dados do Anuário 2019 da Igreja Católica:
A análise geográfica das variações no biênio 2018-2019 mostra um aumento de 3,4% dos católicos na África, que por sua vez registrou um aumento em sua população de pouco menos de 2,7%. Também nos continentes asiático e americano há um crescimento no número de católicos superior ao da população, 1,3% contra 0,9% para a Ásia e 0,84% contra 0,69% para a América.
O percentual dos católicos ganha posição na África, de 18,3 para 18,7 por cento, com leve aumento no Sudeste Asiático.
A distribuição percentual dos sacerdotes por continente revela ligeiras mudanças no biênio considerado. A África e a Ásia juntas contribuíram com 28,0% do total mundial em 2018; em 2019, sua participação sobe para 28,9%, enquanto a Oceania permanece relativamente estável em torno de uma participação de pouco mais de 1,1%.
A África é o continente com maior incremento no número de religiosas, que passou de 76.219 em 2018 para 77.054 em 2019, uma taxa de variação de +1,1%. Segue o Sudeste Asiático, onde as religiosas professas aumentaram de 170.092 para 170.754 nos últimos dois anos, com um aumento relativo de 0,4%.
Dos 114.058 seminaristas de todo o mundo, em 2019, o continente com maior número de seminaristas foi a Ásia, com 33.821. Segue-se a África com 32.721, a América com 30.664, a Europa com 15.888 e, por fim, a Oceania com 964 seminaristas.
O Concílio Vaticano II manifesta uma tomada de consciência muito nítida do fato de que a missão é uma característica essencial de toda a Igreja, ficando bem entendido que esta não se confunde com a Igreja do Ocidente: pela primeira vez um concílio contou entre seus Padres um contingente – em proporção crescente de uma sessão conciliar para outra – de asiáticos e africanos. Sem dúvida, estes não puderam contribuir para o Vaticano II com tudo aquilo que uma Igreja verdadeiramente universal e diversificada poderia esperar deles; os documentos conciliares ainda estão marcados pelo pensamento ocidental, mas desde então isto é percebido como um limite que deverá ser superado o mais cedo possível.
Sob este ponto de vista, o Vaticano II é um salto na expressão da catolicidade da Igreja. Isto pode ser constatado na escolha dos membros das comissões pós-conciliares, dos diferentes órgãos da Cúria e, evidentemente, do sínodo dos bispos. Ainda é apenas um começo, mas necessariamente ele conduz a um futuro diferente.
Um exemplo concreto sobre as possibilidades da Igreja na África e na Ásia: os “Foyers de Charité”, uma fundação de origem francesa, 1936, têm, hoje, casas em apenas 8 países da Europa, mas conta com 14 na África, Benin, Burkina-Faso, Burundi, Camarões, Congo, Costa do Marfim, Gabão, Gana, Madagascar, Uganda, República Democrática do Congo, Ruanda, Senegal e Togo, e 6 na Ásia, Ilhas Maurício, Índia, Japão, Filipinas, Taiwan e Vietname. A direção geral dos Foyers de Charité cabe atualmente a um africano como seu “Moderador”, o Pe. Moïse Ndione do Senegal.
Aquilo que pode parecer uma “novidade”, na verdade é uma volta às raízes. A Palestina de Jesus nunca foi Europa. As cartas de Paulo foram dirigidas a cidades da Ásia Menor, como Éfeso, e ele passeou por Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia. São Tomé fundou a Igreja na Índia, onde ainda existe o rito malabar. Santo Agostinho era africano da Numídia. Nada de novo, pois…
O processo de “des-romanização” da Igreja se acentuou desde a morte de João Paulo I, seguindo-se apenas papas não italianos, um polonês, um alemão e um argentino. Também nos Dicastérios romanos, cresceu o número de “estrangeiros”. Ninguém ficará admirado se o próximo Papa for um bispo africano.
Enquanto o rosto da Igreja se transforma e se “indigeniza”, ainda existe uma gente estranha querendo voltar ao latim. Não dá para entender…
Comentários