Já venderam de tudo: gado e cereais, terras e poços, escravos e mulheres. Tudo se vende no planeta: lotes e casas, seguros e planos de saúde, férias e viagens. Agora, estão vendendo Deus…
Basta um breve zapping na TV e veremos ministros religiosos – das mais variadas denominações! – oferecendo Deus a preço de ocasião. Mesmo que não digam o nome do Onipotente, os marqueteiros da fé deixam bem claro que é possível extorquir algo da divindade se for usada a ferramenta adequada. Saúde perfeita, a cura do câncer, sucesso profissional, riqueza material – todos estes produtos são oferecidos no supermercado do templo.
É bem amplo o catálogo dos recursos oferecidos: água do Rio Jordão, hóstias pelo correio, amuletos de metal, sessões de descarrego, óleo milagroso, exorcismo a domicílio. Tudo pago, é claro, pois o operário merece o seu salário…
Vem-me à memória o depoimento de um missionário italiano que trabalha no Japão há muitos anos. Entrevistado pela revista “Mondo e Missione”, ele contava: “Uma vez, eu explicava a um grupo de catecúmenos que devemos rezar dizendo: ‘Senhor, seja feita a vossa vontade’. E as crianças diziam: ‘Não! Deus é que deve fazer a minha vontade, senão como fará para ser meu pai e me querer bem?”
Nas crianças, tudo bem: é infantilismo. Nos adultos, não: seriam mercenários! Prontos a dobrar os joelhos enquanto a cornucópia divina derramasse dons e graças, mas lépidos em buscar outro ídolo assim que a noite escura de Deus os envolvesse.
Na Jerusalém antiga, Jesus de Nazaré improvisou um chicote de cordas e varreu o Templo invadido por mercadores que faturavam às custas do Deus de Israel, invadindo o espaço sagrado com o estrume das ovelhas e o sangue dos novilhos. Hoje, devemos admirar a paciência de Deus, que contempla toda essa safadeza e ainda não enviou um meteoro de fogo para limpar o terreno… Para mim, este é o grande sinal da bondade divina…
Uma pausa para refletir. Por que motivo eu me aproximo de Deus? Que razões me levam a participar de um grupo religioso? No caso de Madre Teresa, era para reunir forças e acudir às necessidades dos mendigos de Calcutá. No caso de Dom Bosco, era para derramar amor e carinho entre os pivetes de Turim. No caso de Damião de Veuster, era para ser fraterno com os leprosos de Molokai.
Cada um tem suas motivações para se aproximar de Deus. Algumas são tão sórdidas, que acabam por afastar muita gente do mesmo endereço. Deus permita que não sejam assim as nossas motivações…
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