Tentativa de Golpe Militar em Honduras – parte 2

Publicado por Nádia Campos 8 de julho de 2009

Parece irreal, quase inacreditável, mas Honduras, um dos países mais pobres da América Latina, sofreu um golpe através do uso de forças militares. O presidente Manuel Zelaya foi seqüestrado em sua casa e levado para a Costa Rica. A mentira começou com a leitura de uma falsa carta de renúncia do presidente.

Os jogos de palavras, as máscaras midiáticas têm sido muito usadas para confundir e desmobilizar as pessoas. A advogada norte americana Eva Golinger, estudiosa das intervenções do governo dos Estados Unidos na América Latina, em uma entrevista para o canal venezuelano Telesur chamou a atenção para o significado da base militar de Soto Cano, situada a 97 Km da capital, Tegucigalpa, aonde estão aquartelados 600 militares norte americanos. Está ali desde os anos 70 sem nenhum tratado legal, apenas tratado informal em troca de serviços como a formação de militares, lembrando que a lógica de ação é herança da Escola das Américas, utilizada pela CIA para exterminar ações comunistas no continente.

O governo dos Estados Unidos investiu milhões de dólares nesta base. Há alguns anos, Zelaya começou a negociar com Bush a conversão desta base em um aeroporto civil internacional. Billy Joya, que foi quem advogou em favor do governo dos Estados Unidos para manter esta base militar, considerada estratégica na América Latina pelo Pentágono, foi nomeado pelo presidente golpista Micheletti como ministro-assessor. Este mesmo senhor, segundo o Comité de Familiares de Detenidos Desaparecidos en Honduras, COFADEH, comandou torturas em Honduras e é responsabilizado por 16 mortes durante a ditadura militar deste país.

Eva nos alerta ainda para a postura ambígua e falsa aparência de Obama, que faz certas declarações e atua de modo diferente. Na tarde de domingo o Pentágono declarou que o Golpe é civil e não militar, fato que faz com que os EUA mantenham sua relação diplomática com Honduras e declarou ainda que as atividades na base continuarão normalmente, interrompendo apenas as manobras conjuntas.

Organizações internacionais como a OEA, a maior parte dos governos da América Latina, da União Européia e de outras partes do mundo condenaram o golpe e suspenderam as relações com o governo de Honduras. No domingo Zelaya decolou a partir de Washington, onde participou de uma conferência de emergência da OEA de volta para Honduras. Uma multidão o esperava e se manifestava a favor de seu retorno nos arredores do aeroporto, mas as forças militares não permitiram o pouso do avião. Muitos manifestantes foram feridos e pelo menos três foram mortos. Segundo o deputado César Ham, que saiu do país sob ameaças, sua esposa foi agredida fisicamente pelos militares. Disse ainda que apesar da repressão o povo está se mobilizando e os movimentos sociais estão articulando-se com estratégia de ocupar as ruas da capital pedindo e apoiando o retorno de Zelaya.

Também no domingo membros de comunidades indígenas caminharam dez horas pelas montanhas para chegar a Tegucigalpa. Muitos meios de comunicação foram fechados ou estão censurados. As rádios somente tocam marchas militares, sem nenhum noticiário. O toque de recolher a partir das 21 horas permite a entrada de militares em lojas e moradias, proíbe a circulação de pessoas nas ruas, e várias acusações de violação dos direitos humanos por parte dos militares têm sido feitas.

De onde estivermos precisamos continuar atentos, pesquisando e fazendo apelos por todos os meios, a todas as pessoas que pudermos atingir, para buscar a compreensão do significado deste golpe fascista para toda América Latina.

polícia e os militares

A polícia e os militares impediram milhares de apoiadores de Manuel Zelaya de se aproximar do aeroporto de Tegucigalpa

exército hondurenho.

A rede de TV venezuelana TeleSur, através de uma cobertura exemplar, acompanhou a tentativa de Zelaya de aterrissar em Honduras. Por telefone, autoridades de toda a América Latina se manifestaram contra a atitude do exército hondurenho.

Soldados do exército e policiais ameaçando os manifestantes

Soldados do exército e policiais ameaçando e apontando armas contra os manifestantes que aguardavam Zelaya no aeroporto.

Comentários
  • Ivan Ferreira – Ouro Preto – MG 5577 dias atrás

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