A ressurreição da barba

Publicado por Carlos Scheid 6 de julho de 2017
A ressurreição da barba

A ressurreição da barba

Leio no jornal que está em baixa o consumo de fraldas e de lâminas de barbear. A P & G deve estar chorando lágrimas de sangue…

É natural que as fraldas já não sejam consumidas. Desde que os filhos se tornaram algo a ser “evitado” e os contraceptivos são vendidos na feira, a preço de banana, logicamente as fraldas seriam economizadas.

Bem, a notícia deve referir-se às fraldas infantis, pois com a extensão da expectativa de vida e o aumento da população idosa, logo haverá um ativo mercado para outro tipo de fraldas…

Mas não é disso que devo falar. Chamou-me a atenção a redução nas vendas de lâminas de barbear, aliás, cartuchos e barbeadores descartáveis. A informação vem somar-se ao número crescente de homens que deixam crescer a barba, cada vez mais frequente em lutadores de MMA e jogadores de futebol, possivelmente como tática de intimidar os adversários. Nem o Messi escapou da moda!

Outrora, a barba era um acessório indispensável nos homens de respeito. Cara raspada não recomendava ninguém. Veja na enciclopédia as venerandas barbas dos imperadores, com seu impressionante ar profético! E não só as barbas, nem sempre muito higiênicas, mas as suíças doutorais dos médicos, os bigodes engomados dos poetas, as peras grisalhas no queixo dos psiquiatras…

As barbas masculinas chegaram a ser tão importantes, que um só de seus fios substituía com vantagem a escritura passada em cartório. E ainda hoje, nos países árabes, um rosto sem barbas pode levantar dúvidas sobre a masculinidade do sujeito. No Ocidente, antes de ser um Don Juan, todo grande conquistador de corações femininos era um Barba Azul.

Desde a Idade Média, as barbas franciscanas foram a marca registrada daqueles homens admiráveis que, nos trilhos de Francesco, abraçaram a pobreza para se identificarem mais de perto com Jesus Cristo. Nosso livrinho de cânticos, no velho internato, trazia a partitura em que Mozart musicara, com seu habitual humor, o “Venerabilis barba capucinorum”.

A partir dos anos 50, com a invasão das modas norte-americanas, o brasileiro foi convencido a rapar a cara e jogar fora o chapéu francês que Santos Dumont exibira com tanto brio. Ser brasileiro era ser imberbe. Agora, as coisas estão mudando. As barbas estão de volta. Os barbeiros lamentam.

Só nos resta cantar com Mozart. Por exemplo, no Youtube.

Comentários
  • Márcio Marchesini 2672 dias atrás

    Gostaria de perguntar ao autor se ele sabe explicar porque no islamismo e cristianismo ortodoxo a barba é praticamente obrigatória.

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