Visita noturna

Publicado por Antonio Ângelo 24 de novembro de 2015

visitanoturna

Durante o dia
passeia indolentemente pelos salões.
Olheiras explícitas, emagrecido, pálido,
colarinho alto,
incapaz de qualquer ação.

Os que o veem querem logo saber
o que está acontecendo.
Receitam-lhe, uns, remédios,
outros, mandam-no ao curandeiro
que o possa benzer e prescrever raizadas.

No entanto, aflito,
nada lhe interessa.
Tudo que faz
é esperar pela noite.

Mal escurece recolhe-se ao quarto de dormir
onde a janela mantém aberta,
seja calor, chuva ou nevasca.

Permanece acordado, à espreita,
até que às tantas horas
ouve as badaladas
indicando a meia noite.

É quando ela entra silenciosa,
desliza até o seu leito.
Olhos fúlgidos na penumbra,
aconchega-o a seu colo
e expondo-lhe a jugular
ali crava de pronto os caninos.

Como chega, parte;
em passos felinos,
deixando-o exangue,
semidesfalecido em seu leito.

Assim permanecerá
até o raiar da madrugada
quando ao pálido surgir da aurora
outro dia de espera se iniciará.

Comentários
  • Wesley 3271 dias atrás

    Fantástico, AA! Bravo! Isso é ritmo, isso é poesia, isso é dominar o ofício.

  • Gislaine 3271 dias atrás

    Que vampira é essa? Seria o imposto de Renda? Seria o nosso trabalho? Seria as nossas contas a pagar? Seria a inflação? Estamos sendo exauridos de diversas maneiras e “quando ao pálido surgir da aurora outro dia de espera se iniciará”.

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