Sem retorno

Publicado por Antonio Ângelo 3 de julho de 2013

Lamenta o quanto era dócil,
o quanto era fiel a princípios
que afinal nem eram os seus.

Hoje, aos 50 anos –
embora pareça mais velha –
pode-se deduzir que foi bonita.

O marido, que à casa a destinou, e aos filhos,
agora um senhor taciturno, introvertido,
cheio de manias, avesso a climas e toques.

Pergunta-se, certamente,
se valeu a pena tanta abnegação
e passividade em se anular.
Estão os filhos criados, a mesa posta;
tudo está em ordem como nos últimos 30 anos.

Mas quando perscruta adentro,
enxerga diferentes sendas
por onde poderia ter seguido –
trilhas que a levariam a outras paragens
onde u’a mulher inventa prendas
e a noite descortina tramas
da mais perversa felicidade.

Comentários
  • CARLOS LUIS 4140 dias atrás

    “D”Angelo,gostei muito,especialmente deste seu olhar feminino descrevendo a dor da alma desta mulher.E são tantas hein….

    • Antonio Ângelo 4135 dias atrás

      Obrigado, amigos. E que a poesia tenha sempre o seu cantinho pra se manifestar.

  • Marcos Apolnário Santana 4140 dias atrás

    No verso
    “cheio de manias, avesso a climas e toques.”
    Um título de um livro.
    Parabéns pela feliz poética;
    MAS

  • ramon 4141 dias atrás

    É a opinião de um amigo, mas que conhece o poeta e sabe que ele é bom.
    É uma poesia profunda, tocante, verdadeira,
    Envelhecer é dificil mas inevitável

    Obrigado pelo presente, Antônio Ãngelo

  • Wesley 4141 dias atrás

    Poesia só, não. Boa poesia.
    Afinal, está valendo a pena estar em silêncio.
    Assim, afino os ouvidos.
    Os homens cantam, os pássaros cantam, o país acorda.
    Eu, aqui da minha janela, aplaudo.

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