Pela janela a manhã derrama
sua gelatina clara no quarto
misturada a ruídos de motores e monóxido de carbono.
Sobre a mesa a miscelânea de papeis
contas vencidas e a vencer
ofertas de promoções
liquidações de inutilidades.
Há dias sem retirar o pijama
quem é este que soçobra entre vazios
fumando um cigarro após o outro?
Reflete-o o espelho partido
cabelos encanecidos
grandes bolsas sob os olhos
dentes malcuidados.
Repouso: quando há de ter?
A lápide o aguarda
sem nome, sem flores
apenas um número.
Próximo ao buraco negro
que o há de tragar
rumina ódios e se encolhe à sombra
abatido por lembranças de deserções
e torturas infligidas a inocentes.
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