Mundo Asséptico

Publicado por Antonio Ângelo 27 de março de 2020

Mundo Asséptico

Madame transita pela avenida
Em reluzente Mercedes blindada
Cruzando a cidade quase deserta
Amedrontada pela epidemia

Motoboys, caixas às costas, passam acelerados
Mendigos sob marquises
Em promíscuo abandono, faces emaciadas
Cachorros e crianças de permeio

No sinal, um garoto raquítico
Praticando malabares
Ela desvia o olhar, não quer se aborrecer
– É o que me faltava!

Com ar de disgusting
Observa o motorista pelo retrovisor
A máscara sobre o rosto
Como bem lhe exigira

Praça desabitada, parque fechado
Teatro e restaurantes de portas cerradas
Uma não esperada urbe
Que entrevê através dos vidros

No conforto do ar condicionado
Madame recorda verões passados
E sonha com um mundo asséptico
Onde vírus e miseráveis não se replicam

Comentários
  • wesley 1710 dias atrás

    Já dizia o sambista: madame não gosta de samba.
    É o que parece, similarmente, dizer o poeta de bomdespacho.
    Pra quê discutir com madame?

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