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Após poema de Otávio Moraes
Lázaro, ressuscitado de pouco
Levanta-se e o anunciam
Através da porta do sepulcro
A vir em passos instáveis
Após três dias moribundo
Roupa em andrajos
Alguns tecidos enegrecidos
Cabelos desgrenhados
A pele ressequida
Ainda escassa em vitalidade
Caminha com dificuldade
A respiração entrecortada, ofegante
Apoiando-se aqui e ali
Ante os olhos condoídos de Maria e Marta
Enquanto ao Homem que o trouxe à vida
Acena em indecifrável reverência
Pessoas de Betânia o acompanham rua abaixo
Estupefatas ante o que acontecera
Seguem-no silenciosas, compadecidas
Sem entender como Lázaro
Está agora perante todos a caminhar
Num momento ele para
Ante a mulher que prestimosa
Vem-lhe oferecer cântaro com água
(sofregamente molha os lábios gretados
e fita longamente a que dele se condoeu)
Permanece em silencio
A mirar a face da piedosa mulher
Que naquele olhar ainda cheio de sombras
Descobre que a vida, para Lázaro
– a sua segunda vida
Faz-se ainda um enigma a ser decifrado
Ante o que na primeira lhe ocorrera
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