Campo de mártires

Publicado por Antonio Ângelo 11 de fevereiro de 2019

Campo de mártires

“Deus! Ó Deus! Onde estás que não repondes? Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes embuçado nos céus?”
Castro Alves
 

Da janela do meu apartamento
Vejo os helicópteros
Que seguem rumo
Ao campo da morte de Brumadinho
 

Vão para onde não mais
Bosques, fazendas, pousadas
Águas cristalinas
Gorjeio de pássaros
 

Agora é só
Lama
Desespero
Corpos trucidados
O lento escorrer da massa amorfa
Semovente túmulo de rejeitos
Ceifando vidas às centenas
 

Lá um tsunami de desídia
Devastou o vale onde
Pessoas
Animais
Plantações
Casas
Supunha-se até há pouco
Estariam contidas em existência
De previsíveis rotinas
 

Do meu apartamento vejo os helicópteros
E constato que aqui
Bem próximo a mim
A ambição humana faz
Em absurdo desvario
O que deuses
Mesmo em momentos de fúria
Jamais fariam
 

Cai a noite chuvosa sobre os cerrados brumosos
Desta Brumadinho destroçada
Que agoniza em meio a córregos e o Paraopeba
De águas envenenadas
Imolada no pântano dos senhores
Que trocam terra, minério, sangue
Soterrados cadáveres
A própria montanha
Por montanha outra de rutilantes moedas

Comentários
  • aminthas 2121 dias atrás

    A segurança das barragens era atestada por engenheiros alemães, mas a força da natureza foi maior. Os DEUSES ASSIM DETERMINARAM e Castro Alves não respondeu…

  • wesley 2122 dias atrás

    Este nosso mundo vale o quanto pesa, em moeda e minério. Que nos soterrará para sempre sob toneladas de insensatez. Aqui se paga o que se fez – não há mistério.

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