Reflexões sobre a Violência

Publicado por Lucas Moreira Campos 28 de maio de 2010

Autor: Lucas Moreira Campos, de Belo Horizonte

Uma pesquisa feita pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD, mostra que 90,1% dos brasileiros têm a percepção de que a violência vem crescendo no país. Nós brasileiros tratamos a violência como algo cotidiano, ou mesmo usamos a estratégia do salve-se quem puder e tocamos nossas vidas ignorando este grave problema e vivemos normalmente em meio a uma guerra civil não declarada. Mas a violência é um assunto para se dissertar e criar diversas teses, algo tão complexo que cabem inúmeros questionamentos.

Alguns deles: quais são as causas da violência? Teria cunho social ou psicológico? Teria um público alvo e áreas geográficas definidas? Todos estes questionamentos convergem para uma única conclusão: a violência está dentro de todos os seres vivos do universo, pois faz parte do princípio primário de qualquer espécie.

Um exótico exemplo que tenho observado são os gatos: é possível concluir que há entre eles uma hierarquia de dominação que é ditada pela violência, de forma que os gatos mais fortes e violentos estão no topo.

Entre os seres humanos isto não é diferente, a violência faz parte da nossa personalidade e da nossa história. Vivemos em guerra. Em 3.000 anos de civilização humana foram registradas aproximadamente 25.000 guerras! Porém a violência que praticamos nem sempre é uma violência física e primária. Se manifesta de outras formas, como por exemplo através do individualismo, da ganância, da imposição da mídia, da aculturação, da cobrança de impostos não correspondida, das taxas de juros abusivas, da ausência de perspectivas de futuro para os jovens, e/ou do estado que prioriza o interesse dos poderosos. Estas formas de violência preenchem lacunas neste ciclo vicioso.

Outras questões polêmicas são as formas de tentar controlar a violência que muitas vezes são controversas. Nos últimos tempos acompanhamos, por exemplo, a questão do Irã, que segundo o Conselho de Segurança da ONU é governado por um regime totalitário que tem a intenção de enriquecer urânio para produzir armas de destruição em massa. A forma que este conselho pretende solucionar este problema é através de sanções, um detalhe importante é que os cinco países membros do conselho possuem armas de destruição em massa e tratam a questão apenas com imposições.

Não entrando no ônus das condições do Irã, não seria uma forma de violência os cinco países mais poderosos do planeta tratar uma questão dessas com imposição e não com diálogo? Será que este conselho está em condições morais de taxar algum regime de totalitário? E nós, o resto do mundo, temos que viver acreditando que este conselho sabe o que é melhor para as nossas vidas?

A forma com que o estado trata os problemas de segurança pública, não seria outro exemplo da continuação do ciclo de violência? O estado trata problemas de segurança como se fosse apenas assunto policial, mas o crime organizado, por exemplo, passa pelo próprio estado. Tudo isso só ajuda a propagar mais a violência que toma conta de nossa sociedade, o que prova que a violência, em suas diversas manifestações, gera mais violência.

Dentro dessa reflexão sobre um assunto que não tem fronteiras é possível pensar que a violência só deixará de existir quando as fêmeas deixarem de parir. O ser humano é individualista por natureza e usou, usa e usará sempre alguma forma de violência para se impor e para que seus interesses prevaleçam. Isto ocorre inclusive entre pais e filhos, pois a violência é uma usual alternativa para os pais se imporem perante os filhos.

Esta reflexão é pessimista, porém realista, é apenas um ponto de vista, obviamente. Infelizmente os seres humanos são violentos em sua essência, e isto não faz parte da história recente da humanidade, basta lembrar da paixão de Cristo, das guerras entre bárbaros e romanos, do feudalismo, da colonização da África e da América Latina por parte da Europa para saquear recursos naturais. Podemos então concluir que a violência não terá fim, é o estado natural dos seres vivos.

Se admitirmos este ponto de vista, como poderemos viver ou sobreviver em meio a esta realidade? Como já foi citado, o ser humano é individualista por natureza, não podemos pensar em sermos Jesus Cristo ou Mahatma Gandhi, mesmo que uma pequena minoria de nós seja adepta da paz. Independente de termos nossas convicções e sabermos que não existem vilões ou mocinhos, não podemos ser românticos. Não somos os culpados pelos problemas do mundo e temos que valorizar nossas vidas, a verdade é que devemos primeiramente proteger a nós mesmos e as nossas famílias para depois, como sobreviventes desta guerra, pensarmos no resto da sociedade.

 

Comentários
  • Albertina 5053 dias atrás

    Excelente artigo!!!

    Abordou o tema de uma maneira dinâmica, fugindo dos lugares comuns.Fez referência às diversas facetas da violência através do tempo e da história.
    Freud também era adepto dessa teoria: a violência como algo inerente à espécie humana.

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