Desde a Segunda Guerra Mundial, com a decadência dos estados europeus que lhe serviram de palco, os Estados Unidos, que não viram nenhuma bomba cair em seu território durante aquele conflito, despontaram como potência hegemônica em diversas ordens. Na ordem geopolítica mundial que sobreveio àquele conflito o mundo se polarizou entre os blocos Capitalista e Socialista encabeçados por Estados Unidos e União Soviética, tendo início o período da chamada Guerra Fria, caracterizada pela corrida armamentista e espacial, quando havia um grande temor de iniciar-se a qualquer momento uma nova e catastrófica guerra mundial, dessa vez com armas nucleares. Albert Eisntein, o genial físico teria dito: “a terceira guerra mundial ninguém sabe como será, mas a quarta certamente será com paus e pedras”. Em 1989 caiu o Muro de Berlim, e em 1991 a União Soviética se esfacelou em vários estados independentes em sua estrutura e seus objetivos.
Este processo resultou na criação de uma nova ordem mundial e o antigo temor que havia em relação aos conflitos entre superpotências se desfez. O novo cenário trouxe conflitos de outra natureza, como os genocídios na África, o conflito Israel x Palestinos no Oriente Médio e as chamadas “guerras assimétricas” como as praticadas pelos EUA e seus aliados europeus da Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN contra a Iugoslávia, o Iraque e o Afeganistão, onde os governos existentes foram destituídos e as tropas regulares da mais poderosa força armada do mundo passaram a ter que enfrentar um novo inimigo: as guerrilhas islâmicas. Estas surpreenderam o mundo com sua ousadia e originalidade nos Atentados de 11 de setembro, golpeando os EUA em seu próprio território, o que desencadeou a “guerra contra o terrorismo”, forçando os EUA a retirarem a máscara da hipocrisia para perpetrar à luz do dia todas as formas de atrocidades e desrespeito aos direitos humanos, afrontando todos os princípios civilizatórios.
A Nova Ordem se refere ao contexto histórico pós-Guerra Fria e tem o aspecto inicial de um novo equilíbrio de poder. Neste contexto os estados nacionais podem ser divididos em países centrais, semi-periféricos e periféricos. Em tese, poderia se dizer que o mundo se multipolarizou, mas a maioria das inciativas estratégicas ocorreu de forma unilateral, perdendo a ONU toda e qualquer relevância na solução de conflitos e estabelecimento de acordos entre nações. Na maioria dos casos em que interveio foi para legitimar a atuação dos EUA e seus aliados da OTAN, como no caso da tentativa de golpe de Estado na Venezuela em 2002, que foi defendida publicamente pelo ex-presidente Koffi Annan, que também “benzeu” as invasões do Iraque e do Afeganistão.
Um fato que evidencia o controle político do planeta por parte dos países chamados centrais ou desenvolvidos, ou ainda G7, é a permanência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que foi criada como compromisso de cooperação estratégica entre esses países capitalistas na antiga conjuntura da Guerra Fria para enfrentar o então “Pacto de Varsóvia“. Outra característica evidente da Nova Ordem Mundial foi o processo de globalização que intensificou os fluxos de integração econômica, social, política e cultural, tendo como conseqüência o exacerbamento das desigualdades sociais, regionais e nacionais, com um acréscimo de aproximadamente 800 milhões de miseráveis na população mundial.
É consenso que os acontecimentos dessa primeira década do século XXI nos trouxeram a uma nova era de incertezas. Os fiascos das políticas econômicas e de relações internacionais unilaterais dos Estados Unidos no governo George W. Bush foram determinantes para o surgimento de um outro cenário, que teve como conseqüência-chave a desconfiguração de toda e qualquer ordem no âmbito planetário.
Dentre as características inerentes a essa nova ordem, ou melhor a essa desordem, está o despontamento dos países chamados semi-periféricos ou emergentes na economia. Existem alguns fatos que ilustram isso, como a compra das duas maiores montadoras inglesas, Jaguar e Land Rover pela indiana Tata Motors, a da Cervejaria Budweiser, que além de ser a maior dos Estados Unidos era também um símbolo de orgulho nacional naquele país, pela belgo-brasileira AmBev. Porém há alguns fatos que só confirmam as incertezas nessa nova estruturação, pois sem carro chefe e sem maquinista, os vagões do comboio mundial descobriram que precisam de sua própria força para se arrastar.
Os países centrais nessa conjuntura de desordem têm problemas como falta de perspectivas em relação ao futuro no âmbito econômico, e, no âmbito geopolítico, surgem inúmeras possibilidades, como o ressurgimento de um novo bloco socialista. A emergência da socialista Coréia do Norte como potência bélica e tecnológica e as tendências socializantes dos governos latino-americanos como Argentina, Chile, Bolívia, Brasil, Venezuela, Paraguai, Uruguai, Equador, Nicarágua, El Salvador, Guatemala e outros, são indícios da possibilidade da transformação do sistema sócio-econômico nesses estados nacionais sem a necessidade de guerras civis ou revoluções internas.
Atualmente pode se dizer que a única certeza da geopolítica mundial é que iniciamos uma transição para um destino desconhecido e inusitado. O principal fato é que esses tempos de incerteza são também tempos muito interessantes, pois temos a sensação de estarmos vivendo em um gigantesco e excepcional laboratório de teste para tudo o que já se teorizou sobre o fascinante tema da geopolítica.
Comentários
Caro Luiz Orlando,
Este tema não é propriedade de um ciência, é um tema interdisciplinar apesar de estar um pouco mais centralizado em Geopolítica e ser muito mais abordado dentro da Geografia. Tem colaborações de todas as áreas, portanto precisamos evitar o coorporativismo, pois tal fragmentação não existe nem no meio acadêmico nem no meio profissional. Penso que da mesma forma que a Engenharia necessita da Matemática, a Geografia necessita da História e a História de tantas outras ciências como Economia, Geografia e/ou Ciencias Naturais.
Um abraço
Lucas Moreira Campos
A Geografia não só estuda climas e divisões geo-políticas , mas como também o lugar, o espaço, a relação do homem com a natureza, seus aspectos físicos, políticos e sociais.
Talvez um dos mais importantes ramos da Geografia, a Geopolítica diz respeito às disputas de poder no espaço mundial e suas questões sócio-políticas-econômicas no cenário internacional. Ter pessoas gabaritadas a falar desse assunto tão globalizado só podia ser Geógrafo. Não desmerecendo as outras categorias de estudo.
O problema é que muitos geógrafos defendem certos conceitos torpes – por exemplo, 1ª, 2ª, 3ª, 4ª revoluções industriais; daqui a pouco teremos até a 10ª revolução industrial – e ainda insistem em atuar em searas que são muito mais da História do que propriamente da geografia.
Estou vendo que há muitos geógrafos escrevendo sobre assuntos importantes, que antes eram só de economistas e sociólogos. Estes que se cuidem! Vão perder os empregos no governo.