“Enquanto eles choram, eu vendo lenços”. Frase famosa que intitula a biografia de um dos grandes empreendedores brasileiros, Nizan Guanaes.
Bom, claro que não se pode levar ao pé da letra. Mas o que quero discutir aqui hoje é justamente a questão do uso da atual crise como desculpa para se recuar em todas as atividades produtivas, em todas as frentes de trabalho. Usa-se a crise como pretexto para demitir, para cortar, para desinvestir, para fechar as torneiras. Não, e não são as torneiras da crise hídrica. A crise tem gerado uma legião de empreendedores chorões por todo o Brasil, se é que podemos chamá-los de empreendedores. O verdadeiro empresário não chora. Ele se alia, se reinventa, encontra caminhos, empreende, inova, busca incessantemente oportunidades.
Neste artigo abordo a questão do empreendedorismo usando como exemplo a questão do uso dos resíduos para geração de emprego, renda e receita.
Na semana passada fui tomar um café com dois amigos que trabalham comigo na empresa e o assunto foi a questão da reciclagem e da logística reversa. Um deles é geofísico e outro é geógrafo, nenhum deles envolvidos profissionalmente nesta temática, mas me despertaram para a questão.
Dentro de um contexto de conceitos e estratégias veio a pergunta: e se começássemos a pagar para recolher o lixo na casa das pessoas?
Eu, sem entender muito bem a pergunta, disse que a prefeitura já faz isso sem pagar nada, aliás, ela ainda recebe.
Depois refleti mais um pouco sobre o assunto: Quantos residentes hoje separam o lixo na cidade de São Paulo, por exemplo? Qual a abrangência da coleta seletiva hoje na cidade? Na triagem, quais são os subprodutos do lixo reciclado? Quem compra, quanto paga?
Qual a receita com esta venda? Poderíamos fazer várias outras perguntas, aprofundar mais sobre as variáveis de viabilidade, investimento, rendimento, benefícios etc. Fato é que a pergunta me soou muito oportuna se pensarmos no atual cenário que estamos vivendo e, principalmente, na possibilidade de aumentarmos consideravelmente o volume de lixo reciclado.
Quem sabe não surge a partir daí uma ideia de empreendedolixo. Comprar lixo, triar, prensar e vender. Já existe para alguns tipos de resíduos (pneus, garrafas PET, latas de alumínio e outros) que são alvo de ações empreendedoras, mas no âmbito residencial, ainda não vi nenhuma iniciativa. Talvez em Curitiba tenhamos algo similar, porém mais voltado para comunidades carentes e por iniciativa de governo. Se alguém souber de alguma outra, por favor contribua para este artigo. Hoje a gente paga para as prefeituras coletarem o nosso lixo. A ideia é inverter isso. Utópico? Não dá para saber, mas vale a discussão sobre a viabilidade, se há concessão pública para isso e, principalmente, se há interesse do empresariado e dos governos. Fato é que necessitamos sempre buscar soluções e estratégias para reduzirmos a disposição de resíduos no ambiente, seja pela não produção, pelo aumento da reciclagem, ou pela geração de energia, alimentando assim as iniciativas de empreendedorismo neste segmento.
Por fim, fazendo alusão ao texto do cineasta mineiro Pablo Villaça, “Apesar da Crise”, o Brasil ainda vai continuar produzindo muito lixo.
Comentários
Verly, boa tarde. Muito oportuna sua abordagem. Neste momento estou terminando de escrever um projeto para um mestrado aqui em São Paulo cuja temática recai sobre a emissão de gases efeito estufa no Aterro de Santo André e seu aproveitamento para a produção de energia. No mesmo, pretendo abordar políticas públicas de incentivo ao investimento por parte de empresas no aproveitamento dos RSU para geração de energia, cumprindo uma função de sustentabilidade. Acredito que possa haver uma sinergia com a SLU, uma vez que vou tratar da questão da redução destas emissões, bem como da longevidade de aterros. Assim, farei contato com sua indicação para esta aproximação.
Obrigado,
Abraços
Christian
Boa noite,prezado Christian!
Sei que escreveu esse artigo a muito tempo, estava vendo na internet sobre a parte de Logística Reversa Sustentável, pois preciso fazer o meu TCC sobre esse tema, teria alguma bibliografia que pudesse passar sobre esse tema?
Parabéns pelo tema (muito me desperta, pois é um bem abrangente esse assunto.
Desde já,
sou agradecido pelo artigo.
Marcos Ramos
Christian, sua ideia é valida. Temos de inverter sempre as formas de pensar estabelecidas e colocar justamente o inverto para o debate.
Sugiro conversar com a Engenheira Daniela Wilken da SLU-Belo Horizonte, que está a frente da Coleta Seletiva. O e-mail institucional da Engenheira Daniella Wilken.
[email protected]
Participei, ainda em fase inicial da mobilização social para a coleta seletiva e em poucos anos conseguimos que toda a população de BH soubesse o que é coleta seletiva e até mesmo quais os materiais recicláveis. Aliás, no caso da coleta seletiva, emprega-se materiais recicláveis em lugar de lixo reciclável ou reciclado.
Leia meu bem humorado artigo neste portal sobre logística reversa. Ljubljana foi primeira capital da União Europeia a colocar em prática o Plano Lixo Zero. A cidade tem um eficiente sistema de coleta seletiva porta a porta.
Meu e-mail é [email protected] caso queira uma discussão mais longa. Se bem que prefiro por aqui.
Outras observações:
Descarte ilegal e falta de informação brecam reciclagem de entulho de obra.
Inclua em suas pesquisas a inovação tecnológica, preparação da sociedade, de recursos humanos, de investimentos necessários e suficientes e efetivas políticas públicas.
Veja que interessante este edital da SLU/BH:
AVISO DE ABERTURA
CHAMAMENTO PÚBLICO N.º 2015/004
Processo: 01.123672-15-30.
Objeto: Contratação de associação ou cooperativa de catadores e trabalhadores com materiais recicláveis para prestação de serviços de coleta seletiva porta a porta de papel, plástico, metal e vidro, no distrito domiciliar L13A, localizado na região Leste de Belo Horizonte, utilizando mão de obra de associados e cooperados e veículo tipo caminhão baú de propriedade da Superintendência de Limpeza Urbana – SLU.
O edital poderá ser obtido pelos interessados através do “site” http://www.pbh.gov.br (sem custo) ou adquirido na Tesouraria da SLU, situada na Rua Tenente Garro, nº 118, 4º andar, Bairro Santa Efigênia, nesta Capital, devendo ser recolhido o valor nos termos da legislação municipal aplicável.
Entrega dos envelopes contendo a documentação: até as 9hs do dia 2/10/2015.
Abertura da documentação de credenciamento em sessão pública: a partir das 9hs do dia 2/10/2015.
Quaisquer outras informações podem ser obtidas junto à Comissão Permanente de Licitações, Rua Tenente Garro nº 118 – 8º andar – Santa Efigênia – Belo Horizonte. Telefone (31) 3246-5001.
Belo Horizonte, 17 de setembro de 2015
Rodrigo Fortes de Magalhães Drummond
Diretor Administrativo-Financeiro