Gratidão – parte I

Publicado por Padre Joao Delco Mesquita Penna 17 de abril de 2024
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Uma reflexão sobre o sentido da gratidão na existência humana e a importância da doação de órgãos

Após três anos de terapia dialítica, com sessões na cadeira da hemodiálise e na máquina de dialise peritonial, quis o destino pela graça de Deus que eu fosse transplantado, recebendo por doação um novo rim compatível com o meu organismo. A doação veio de um doador desconhecido, mas de coração repleto de generosidade, solidariedade humana e compaixão com o seu próximo. O procedimento cirúrgico foi muito bem-sucedido, realizado pelas mãos da competente equipe médica de nefrologistas da Santa Casa de Montes Claros, MG.

Após o procedimento cirúrgico do transplante, eu vivi uma experiência emocional de profunda alegria como jamais havia vivido em minha vida, fazendo-me entender que a cura que precisava não era somente física, da doença renal crônica terminal, mas também precisava de curar-me interiormente das minhas mágoas, angústias, medos, transtornos e marcas emocionais. Depois de conhecer a técnica da Abordagem Direta do Inconsciente, ADI, que é um método terapêutico criado pela Dra. Renate Jost de Moraes, com base na logo terapia, que em sua aplicação pode levar ao encontro conosco mesmo e com o Transcendente que habita em nós, eu passei a conhecer melhor o funcionamento do sistema conhecido na psicologia e psiquiatria como psiquismo humano, comandado pelo nosso inconsciente.

Ainda no Centro de Tratamento Intensivo, CTI, vivendo um momento de intimidade interior, fui surpreendido e interpelado inesperadamente pela revelação vinda do meu inconsciente, onde o medo da finitude da vida se misturava com uma alegria profunda de tê-la de volta por meio do procedimento cirúrgico do transplante renal, que acabava de ser realizado. Era o encontro do meu “eu-existência” com o meu “eu essência”, que me conduziu a uma profunda reflexão sobre o sentido da gratidão em minha trajetória de vida por este mundo.

A Dra. Renate Jost de Moraes, criadora do método terapêutico, ADI, e do Instituto de Integração Pessoal, em seus estudos e pesquisas já havia descoberto que em determinado momento da interiorização do ser humano, a pessoa poderá realizar este encontro consigo mesma, ou seja, o “eu existência” com o “eu essência divina” que habita em nós, que nos acompanha desde o período uterino até a finitude no corpo, utilizando técnicas de acesso ao nosso inconsciente.

O autor Victor Frankl, médico, psiquiatra e neurologista, tem várias publicações em torno da logoterapia, isto é, da cura pelos logos Essência Divina-Espírito. O logo é a palavra grega para designar o Deus imanente no universo e no homem, portanto todo ser humano é existência e essência.

Quanto a mim tudo se passava vindo do meu interior, o inconsciente, fazendo sentido em tudo vivido até aquele presente momento e levando-me a fazer memória de fatos e acontecimentos do meu passado vivido em meus de anos de existência!

Falava-me do Bem da Gratidão e da Maldição da Ingratidão! A experiência vivida por mim levou-me a um momento decisivo de aceitação da minha condição de sofredor, veio um sentimento profundo de arrependimento pela pratica de ingratidões na vida e finalmente ao desejo de libertação dos sofrimentos físicos trazido pelo transtorno da doença renal crônica e dores e marcas emocionais trazidas comigo como herança do meu passado e dos meus antepassados acumulados no meu inconsciente. Tudo isso levou-me a entender melhor o sentido da vida no corpo na passagem por este mundo! Talvez tentar dar uma resposta a uma pergunta existencial milenar: “quem sou eu e qual a razão de estar aqui?”… O encontro veio em um momento de muito sofrimento, em meio a dor física e emocional, em plena madrugada, no Centro Tratamento Intensivo, CTI, da Santa Casa.

Isso me fez lembrar o escritor Humberto Rohden quando afirma: “o centro de todo homem é o seu eu espiritual, sua alma, o seu Deus interno, a sua essência divina que habita o seu ser”. Cada ser humano é existência, mas também essência. O mais curioso é que este Deus interno no homem de início se encontra em estado embrionário, para desenvolver este embrião Divino requer esforço, conhecimento, luta interior, persistência, crer, ter fé, e profundo entendimento do sofrimento e sua causa por parte do sofredor. Há entre os sofredores três perfis distintos: os revoltados, os resignados e os regenerados.

Preferível ser regenerado como foi Jesus e alguns santos da Igreja. Uma semente não pode romper seu invólucro duro se não sofrer, isso nos lembra o sofrimento humano, se o grão de trigo não morrer ficará estéril, se morrer produzirá muito fruto (cf. Jo 12,20-33). O encontro com o sofrimento dos regenerados levará ao encontro com a sua essência. Este Deus Essência, em meio às dores e sofrimentos, leva o sofredor regenerado a um profundo sentimento de Gratidão. O sofredor regenerado sensato compreenderá o que se passa e poderá dizer: não devia então eu sofrer tudo isso para assim entrar na minha realização pessoal?… Assim como disse Jesus aos sofredores no caminho de Emaús: “não devia o Cristo sofrer estas coisas, para entrar na sua glória?”

(Continua na parte II): https://www.metro.org.br/padre-joao-delco-mesquita-penna/gratidao-parte-ii/

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