Francisco: o Papa Peregrino dos pobres da Terra e dos porões da humanidade

A História da Igreja, acaba de registrar no arquivo da eternidade a passagem por este mundo de dois Franciscos unidos pelos mesmos ideais, Francisco de Assis e Francisco de Roma! Francisco de Assis vindo da nobreza Italiana, renuncia às mordomias de um palacete escolhendo viver uma vida inteira na pobreza de uma Porciúncula, a capela singela onde iniciou sua caminhada.
São Francisco de Assis, em 1205, teve uma visão diante do Crucifixo de São Damião, que lhe dizia: “Vai, Francisco, e reconstrói a minha Igreja em ruínas”. Assim, obedecendo essa voz do alto, Francisco de Assis restaurou a pequena Porciúncula, que estava em ruínas. Mais tarde se deu conta de que a restauração era mais abrangente, que a Igreja em ruinas era toda a Igreja universal, que vivia emergida no luxo e na riqueza.
Passados oitocentos anos, no dia 13 de março de 2013, quando a fumaça branca da chaminé da Capela Sistina subiu aos céus, anunciava a chegada de um outro Francisco, desta vez, vindo do fim do mundo dos porões da América Latina como ele mesmo preferiu afirmar em sua primeira aparição.
Doze anos se transcorreram e no dia 21 de abril de 2025, o Francisco de Roma, depois de celebrar a páscoa com os seus na praça de São Pedro, sede do Vaticano, abençoou a todos, desejou Feliz Páscoa aos cristãos do mundo inteiro e deixando para todos a sensação de missão cumprida, foi celebrar a sua páscoa definitiva com o Cristo Ressuscitado, Francisco fez sua Páscoa no mesmo dia.
O Francisco de Roma impactou a humanidade com seu jeito de exercer o seu pontificado e nos deixou como legado o ensinamento de como viver com fidelidade os ensinamentos e a proposta do Evangelho de Jesus de Nazaré, dedicado ao amor e a solidariedade entre os povos.
Francisco, o Papa nos aproximou da Sagrada Escritura e não nos deixou presos às teorias filosóficas e teológicas, nos distanciando dos meros formalismos de uma religião vazia. No primeiro momento nos ensinou a ser “Igreja em Saída”, uma igreja que cuida dos pobres, preocupada com a defesa da vida desde o útero materno até a sua finitude! Uma Igreja que requer uma reforma para os novos tempos, novos desafios, novas realidades. É tempo de evangelizar, de sair das estruturas por vezes arcaicas, indo pelas ruas, pelas periferias, numa “Igreja em Saída”.
Uma Igreja aberta que defende a vida planetária e o cuidado com a casa comum através de atitudes concretas na construção de um modelo sustentável, que respeita a Criação e na defesa permanente por uma Ecologia Integral, mas não somente com seres humanos, mas com toda a natureza no cuidado amoroso com todas as formas de vida!
O Papa Francisco encarnando a vocação franciscana, não escolheu o nome de Francisco por acaso, foi aproximando ao máximo da coerência de Francisco de Assis, com uma preocupação extraordinária com as causas sociais e humanitárias. O seu ministério foi um marco importante na evolução da história da humanidade!
Assim como o santo Francisco de Assis, o Francisco de Roma procurou reformar as Estruturas Eclesiais no governo da Igreja! A sua coragem de decidir sobre as questões internas da Igreja teve uma relevância extraordinária para as comunidades eclesiais do mundo inteiro.
Francisco simplificou o papado e aproximou a igreja dos fiéis, com nomeações de bispos mais pastorais, lideranças mais sensíveis às realidades globais. Francisco afastou-se das mordomias palacianas e foi morar na Casa Santa Marta, aproximando-se dos mais pobres e simples! Onde muitas vezes alimentava-se com moradores de rua e com prisioneiros!
Francisco Reformou a Cúria Romana, deu mais visibilidade às mulheres, incentivou a escuta coletiva e promoveu a sinodalidade, promovendo a “Igreja em Saída”, uma Igreja que se dirige às periferias humanas, indo ao encontro daqueles que estão afastados ou excluídos, uma Igreja que deixa de lado o comodismo e se dedica a anunciar o Evangelho a todos, sem medo ou hesitação, uma igreja missionária.
O mais doloroso desafio que Francisco teve que enfrentar de cabeça erguida, foram as denúncias de abusos na igreja, não se acovardou e lutou incansavelmente contra a pedofilia e a multiplicação de escândalos de abuso sexual de menores na Igreja, da Irlanda, Alemanha, passando por Estados Unidos e Chile. Francisco mudou a posição sobre a pena de morte e adotou uma abordagem mais aberta a temas como sexualidade e meio ambiente.
Francisco também renovou o obscuro setor financeiro do Vaticano, envolvido em escândalos, com a criação em 2014 de uma secretaria para a economia. Uma estrutura de investimento foi implementada e medidas anticorrupção foram tomadas, criando uma economia própria, mais humana e justa: a conhecida economia de Francisco.
O seu papado foi muito importante para o mundo todo, nesta época tão difícil que estamos atravessando, de guerras, violência, abusos, e outros desafios! Sempre em suas viagens pelo mundo procurou levar a esperança, coerente com os princípios do amor misericordioso de Jesus.
O Papa Francisco teve ousadia de ir além das fronteiras do cristianismo, foi ao encontro de todos os povos recebendo e dialogando com pessoas de diferentes tradições religiosas e propondo o diálogo inter-religioso, tratando a todos como irmãos, com o propósito de criar uma comunidade mundial mais pacifica, mais respeitosa, mais harmoniosa com toda a obra da Criação.
Os grandes líderes religiosos são capazes de ver além das muralhas de sua religião, para cuidar da vida em suas inúmeras formas, estabelecendo laços, pregando a paz e a dignidade da vida, neste sentido o Papa Francisco, como um grande líder, procurou ir ao encontro das mais diferentes crenças, dialogando, inclusive com o islamismo e outras tradições.
Francisco proclama o ano 2025 como o ano Jubilar com o tema “Peregrinos da Esperança”, que foi oficializado com a abertura da Porta Santa da Basílica de São Pedro, no Vaticano, no dia 24 de dezembro de 2024. Francisco não pode celebrar o fechamento deste Ano Santo, mas celebrará com os anjos, junto ao Cristo Ressuscitado, em grande festa e jubilo este magnifico acontecimento da história do cristianismo.
Que possamos oferecer a ele nossa Oração, nosso Respeito, nossa Gratidão! Que ele receba a recompensa eterna por ter deixado para nós este legado com sensação de missão cumprida! Pode subir aos céus Papa Francisco! A você que tantas vezes nos abençoou, nós também o abençoamos, pela sua memória, pelo seu legado de uma vida plena, amorosa, cristã, que transcende ao próprio cristianismo!
E agora, Francisco quem será seu sucessor?
Com a morte do Papa Francisco, a Igreja Católica agora se vê diante do processo de escolha de seu novo líder, através da realização de uma longa reunião, conhecido como Conclave. O Colégio Cardinalício, composto por cardeais de todo o mundo, é o responsável por eleger esse sucessor, que assumirá o papel de dirigir a Igreja em uma época de grandes desafios globais.
A grande incógnita será: quais são os destinos da Igreja católica? O Papa Francisco fará o seu sucessor alinhado com o seu pensamento e proposta reformista e de uma Igreja peregrina e “em Saída”, ou a Igreja votará para as mãos dos conservadores de plantão?
Que será o próximo Papa? Ainda não sabemos! Segundo alguns estudiosos no assunto este conclave será longo, durará em torno de uma semana ou mais. Muito provavelmente haverá uma concorrência acirrada entre os Grupos de Cardeais, entre eles os dos Estados Unidos, por ser uma Igreja abastada, os italianos na defesa da hegemonia papal e os africanos por ser a uma igreja em expansão.
É provável que o próximo Papa, seja quem for, siga algumas das reformas do Papa Francisco, mas com qual intensidade não sabemos. Os cardeais, que escolherão o sucessor, estão conscientes da necessidade de manter a tradição e ao mesmo tempo responder às mudanças do mundo.
Mas o que é certo é que o próximo papa moldará o futuro da igreja: doutrinariamente, diplomaticamente e pastoralmente. Independente de optar em aproveitar o legado de reforma de Francisco ou seguir em uma nova direção, ele precisará equilibrar tradições antigas com as realidades urgentes do mundo moderno em sua globalidade e enfrentar os inúmeros desafios em tempos de mudança de época.
Cabe a nós estar em oração, rezando para que o Espirito Santo possa dirigir os destinos da Igreja, iluminando a mente dos conclavistas para que o escolhido seja alguém que aproxime do legado dos FRANCISCOS, o santo de Assis que escolheu a pobreza como irmã, e a do seu fiel seguidor, o misericordioso Papa Peregrino de Roma, que se fez pobre com os pobres, preocupado com o modelo de evangelização, para o nosso tempo, sem esquecer de incluir o cuidado com os pobres e marginalizados e multiplicar a defesa da vida na casa comum através de uma ecologia humanitária integral e planetária. Deus seja nosso guia nesta jornada por este mundo!
Artigos Relacionados

Comentários