Malha Fina
Published by Antonio Ângelo in Poetry
data: 25/09/2022
Perante a autoridade fiscal
o poeta mostrou o que trouxera:
cadernos de folhas amareladas,
papéis de tamanhos diversos,
tudo cheio de garatujas.
O auditor viu a papelada sobre a mesa;
o que aquilo tinha a ver
com os assuntos pecuniários em pauta?
- Mas o senhor não possui bens,
pertences que transfira à Fazenda?
Afinal – e lhe mostrou o auto do enquadramento –
cá estão leis, decretos e artigos
que o incriminam em débitos!
O poeta olhou para o funcionário federal
e notou alem das grossas lentes esverdeadas
dois olhos que o fitavam com ironia.
Nada tinha de seu
a não ser a imaterial percepção do mundo.
A autoridade fiscal tirou os óculos,
virou-se para o assistente e ordenou:
- Não tem onde cair morto;
confisquem-lhe a Musa.
antonio angelo
27/09/2022
ILUSTRAÇÃO: Benício Cunha
francisco aminthas de carvalho moura
1/10/2022
GENIAL