Cidade Administrativa: servidores apreensivos

Publicado por Editor 6 de julho de 2010

Repórteres: Gleide Santos e Cristiane Lopes

Foto: Gleide Santos

O Complexo

Cinco prédios compõem o complexo da Cidade Administrativa: o palácio do Governo, ou Palácio Tiradentes; um auditório com capacidade para 500 pessoas; dois prédios ou torres, ‘Minas’ e ‘Gerais’, feitos para abrigar todas as secretarias e um centro de convivência, construído entre as torres das secretarias. O projeto leva a assinatura do arquiteto Oscar Niemeyer. A área construída é de 310 mil m² e contou com o trabalho de nove das maiores construtoras do país: Camargo Corrêa, Santa Bárbara, Mendes Júnior, Odebrecht, Queiroz Galvão, OAS, Andrade Gutierrez, Via Engenharia e Barbosa Mello. Até outubro a previsão é que cerca de 16,3 mil funcionários estejam trabalhando no complexo.

A nova sede custou aos cofres do governo do Estado até o momento R$ 1,2 bilhão, sendo R$ 948 milhões com a execução da obra e outros R$ 280 milhões gastos em serviços e equipamentos contratados. O tempo gasto para conclusão da obra totalizou 15 meses. Mas apesar de ter sido inaugurada em 4 de março deste ano, a estrutura da Sede apresenta sérios problemas como trincas e rachaduras.

Trincas e rachaduras

Segundo notícias que circulam na imprensa, haveria um laudo técnico comprovando o afundamento de 15 centímetros na fundação do Edifício Minas, que possui 17 pavimentos.

No dia 17 de junho, os servidores fizeram uma reunião com a Secretária da SEPLAG, Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão, Renata Vilhena, com Ricardo Lopes Martins, prefeito do complexo e Marcelo Arruda Nacif, diretor da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais, Codemig, ocasião em que a secretária confirmou apenas o surgimento de rachaduras no acabamento do piso, de entrada, em função da escolha infeliz do material.

Foto Divulgação – Cristiano Couto

Além das trincas no piso térreo do Palácio Tiradentes, servidores dão conta que no prédio “Minas”, que fica do lado da rodovia, onde os pisos foram cobertos com lâminas de carpete de formato contínuo, tais carpetes apresentam rupturas provocadas por trincas, que nesse caso seriam mais graves, pois indicariam o comprometimento de toda a estrutura do prédio, que até hoje está com pequeno nível de ocupação. No entanto nota oficial divulgada pelo governo do estado através da SEPLAG afirma que tais “trincas” seriam na realidade as fendas de dilatação, já que os prédios-torres foram edificados em cinco módulos contíguos, mas não contínuos. Afirma também a nota, que está afixada em todos os órgãos públicos do estado, que o recalcamento das fundações está num nível aceitável, e que não indicam o comprometimento da estrutura.

No entanto é verdade que o cronograma de transferência dos órgãos do governo para a nova sede está bastante atrasado, e ao que tudo indica, foi interrompido. A mesma nota oficial afirma que o atraso do cronograma se verifica pela complexidade dos sistemas informatizados que não podem sofrer descontinuidades em seu funcionamento.

De acordo com o portal “Gestão Pública”, do Sindiute-MG, o governo admite gastar uma significativa soma adicional para manter o complexo de pé. A lista de “defeitos” na obra apontados num “check-list” preliminar vai do tipo de piso usado nos pilotis dos prédios principais, cuja granitina apresenta uma série de fissuras, às maçanetas que não conseguem manter as portas fechadas. A discussão sobre quem pagará a conta gera constrangimento entre as construtoras e o governo.

Nossa equipe procurou o Assessor de Imprensa da Cidade Administrativa, Aluizio Bernardes, mas até o fechamento dessa matéria ele não havia se pronunciado sobre o assunto.

Opinião de um especialista

O presidente do Instituto Mineiro de Engenharia Civil, IMEC, engenheiro civil Marcelo Fernandes da Costa, 54 anos, especializado em obras de grande porte, e há mais de trinta anos no mercado, ouvido pelo Portal Metro, ressalta que as conseqüências de uma fenda ou rachadura no prédio Minas da Sede Administrativa são perigosas. Segundo ele, um recalque na fundação pode ocasionar rachaduras devido ao acomodamento da estrutura no solo, mas pode se estabilizar com o decorrer do tempo e assim, se a estrutura for sólida, o problema não se agrava.

De acordo com Marcelo, as rachaduras poderiam ter sido evitadas. Ele afirma que a causa de uma rachadura passa por várias possibilidades, desde a execução da fundação, até a conclusão da estrutura, passando pelo projeto estrutural, pela mão de obra executora e pelo cronograma da obra.

Marcelo ressalta que a principal hipótese explicativa dos problemas estruturais surgidos passa pela concepção arrojada do projeto arquitetônico do Centro Administrativo.

Foto: Cristiane Lopes

A obra, que teve início em janeiro de 2008, teve que ser concluída a tempo do então governador Aécio Neves inaugurá-la, antes de sua saída para desincompatibilização eleitoral. A inauguração se deu em 4 de março, coincidindo com a data do centenário de Tancredo Neves, avô de Aécio, que dá nome ao complexo. O projetista buscou os limites extremos permitidos pela tecnologia do concreto. Segundo o engenheiro entrevistado, foi exigido, tanto do calculista da estrutura quanto das construtoras, que trabalhassem no limite extremo, não restando margem para qualquer falha humana.

Recorde de vão livre e de ar condicionado

No caso do Palácio Tiradentes o edifício cravou o recorde mundial de vão livre em concreto armado com um comprimento de 147 metros, largura de 26 e quatro andares, ficando pendurado na estrutura superior que é sustentada por quatro grandes colunas. Segundo um arquiteto paulista da geração mais atual, os projetos são “requentados e superados, deixando de lado questões atuais como a eficiência energética – o complexo tem a maior área de vidros da América Latina. Fachadas envidraçadas voltadas para as faces ensolaradas, por exemplo, um erro primário que exigirá mais energia do ar-condicionado”.

Afora estas críticas doutrinárias, segundo alguns funcionários do prédio do Palácio Tiradentes, nau capitânea da flotilha, onde o sistema de escoamento das águas servidas é feito à vácuo na vertical ascendente, no momento em que se dá uma descarga nos vasos sanitários um grande ruído é ouvido.

Apreensão dos Servidores

Sobre a situação dos servidores para ali transferidos, conversamos com a escriturária Solange Mendes Assis, 52 anos, que presta serviços para o governo há 28. Ela diz que os funcionários têm enfrentado problemas com alimentação e transporte, o que tem deixado alguns ansiosos. No que se refere à alimentação, Solange conta que a comida é cara e não são raros os casos de servidores com problemas estomacais. “Não temos uma farmácia ou lanchonete, tendo que nos contentar com máquinas de aperitivos juvenis que não são saudáveis, não saciam a nossa fome e custam caro”. Além disso, a água colocada em um copo na parte da manhã estaria se tornando turva na parte da tarde.

A sede possui dois restaurantes, mas Solange acredita que um restaurante popular no local seria o mais adequado. “Solucionaria as nossas necessidades, com alimentos de qualidade e baixo custo”, diz.

De acordo com Solange o transporte não é nada especial, ela disse que as “vans” não têm nenhuma fiscalização, “as pessoas correm sérios riscos”.  Ela gasta duas horas para chegar ao serviço, “tenho que pegar metrô, ônibus e aguardar até que o mesmo esteja cheio para poder sair” diz. Solange afirma que paga a sua passagem do próprio bolso, “tenho que arcar com meu dinheiro e correr riscos para chegar ao local que nos foi imposto”.

Mara Adelaide Pessoa Dutra, socióloga e servidora trabalhando na Cidade Administrativa, disse que considera válida a proposta de reunir em um só local os diversos órgãos estaduais, pois isso pode contribuir para maior integração das ações e rapidez para o usuário que precisa de se dirigir a mais de um órgão.

De acordo com a socióloga, no entanto os funcionários têm sido prejudicados, “uma vez que o deslocamento até a sede consome bastante tempo, em razão da distância entre a Cidade Administrativa e o Centro de Belo Horizonte e da falta de transporte regular e rápido”.

Ela disse que quando se optou pelo local não se pensou em dois pontos importantíssimos: o bem-estar da população da região e dos funcionários.

De acordo com Mara, a mudança implicou em perda de tempo, de assistência à família e dinheiro. “Por exemplo, hoje, com transporte e refeição, gasto em torno de R$ 270, mais do que gastava antes, R$ 192,” diz.

Mara também comenta sobre as rachaduras. Ela disse que a secretária Renata Vilhena esteve no prédio no qual trabalha para tentar acalmar as pessoas, informando que não há risco do prédio cair. “Outro dia, caiu um pedaço de gesso do teto da minha sala e questionei: “um pedaço de gesso pode machucar alguém, não pode?” ”Não tive resposta, quer dizer, é natural que caiam pedaços de gesso no local de trabalho dos funcionários”, relata.

De acordo com a servidora, ela não acredita que haja ameaça do prédio cair. “No entanto, apesar de não me preocupar com isso, já sonhei com um prédio cheio de trincas, que desabou sobre minha cabeça. Ou seja, essa história acaba nos impressionando.”

Mara disse que são absurdas as condições de transporte entre Belo Horizonte e a Sede, e até se sente uma privilegiada, como explica: “moro na Savassi e tem um ônibus pela manhã que passa a três quarteirões de minha casa e leva 45 minutos para chegar à Sede. Porém, esse ônibus passa somente até as 8h00 da manhã. Fora desse horário e todos os dias à tarde, tenho que pegar ônibus, metrô e depois outro ônibus”. Nesse caso ela gasta em média de uma hora e meia a duas horas para chegar ao local de serviço.

Quanto à alimentação ela disse que almoçou no restaurante “a quilo” umas quatro vezes, “em duas vezes que almocei me dei bem, comida simples, mas gostosa; nas outras duas, não havia opção de carne de frango, somente coisas que não como.” Para ela, a comida pode ser melhorada, todos os dias têm que ter o básico saudável, carne de boi e frango grelhados e pelo menos, duas variações de carne, peixe, lingüiça… Mara disse que a Sede deveria diminuir o preço da comida. Também de acordo com a servidora seria importante instalar um restaurante popular, como o que há no centro de Belo Horizonte.

Comentários
  • Sebastiao 3192 dias atrás

    A construção da Cidade Administrativa deveria ser investigada pela federal, os picaretas da Petrobras trabalharam lá.

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