Se um café
Pudesse aquecer-me a alma
Se João Gilberto
Pudesse fazer-me esquecer-te
Se eu ouvisse a minha razão
E não a emoção volúvel
Do que chamam coração
Talvez eu tivesse paz
Talvez eu não sofresse
Mas daí eu não escreveria
Que diferença faz
Trocar de dor não faz sentido.
Se ao invés de teu amigo
Eu fosse teu amante
Objeto tímido de teu amor
Viveria a alegria inconstante
De reconhecer-me
O mais afortunado homem que este mundo já viu
Entretanto,
A felicidade do homem
É a ruína do poeta
Sem dor não se escreve
O poeta inventa a angústia
Ou antes se angustia por a ter
O poeta, assim como o sambista
Necessita da dor criadora
E do olhar carinhoso de um amigo que assista
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