Homens Perigosos

Publicado por Carlos Bitencourt Almeida 17 de julho de 2019

Neste artigo não estará em foco o assassino, o estuprador, o torturador. Os jornais diários falam bastante destes personagens e eles tem adequada cobertura no código penal brasileiro. Existe um tipo de homem que pratica uma violência mais sutil, mais inteligente, que não deixa marcas no corpo e sim no interior das pessoas, invisíveis, impalpáveis, mas frequentemente muito dolorosas.

A mulher jovem, em busca do grande amor de sua vida, aquele com o qual se casará e terá filhos, não raramente encontra homens que falam a linguagem que toca seu coração. Homens que em poucas semanas ou meses de namoro já falam em casamento, tem pressa para casar, querem ter filhos o mais rápido possível. Diante de tantos homens jovens que fogem de compromisso, escorregadios, que querem apenas ‘ficar’, homens assim tão desejosos de um compromisso sério parecem um achado raro e precioso.

Já durante o namoro aparecem pequenos sinais. Estes homens desejosos de compromisso rápido costumam ser ciumentos, às vezes muito ciumentos, possessivos. Controlam tudo que a amada faz, onde vai, com quem se encontra. Ligam frequentemente, querem relatório, falam longamente sobre a importância da fidelidade, de viverem um para o outro, de fugir das más companhias. Preferem que sua amada se afaste das amigas e que conviva pouco com a própria família. Querem ser o centro absoluto da vida da namorada. Não querem que ela ouça maus conselhos de suas amigas ou que tenha delas maus exemplos. Querem que se afaste de sua própria família, porque ela agora terá a sua família, seus próprios filhos e precisa afastar-se de sua família de origem porque deve desenvolver sua independência, confiar nele, seu namorado, noivo e futuro marido e afastar-se de todas as influências prejudiciais.

Não raramente começa a semear na mente da namorada ou noiva a idéia de que não é necessário que ela trabalhe, que ele é homem o bastante para sustentar ela e os filhos. Se ela ainda é estudante, vigia-a com rigor. Nada é pior do que o ambiente de uma escola, entre pessoas de ambos os sexos, para desviar uma noiva do bom caminho.

Se ele for cauteloso o bastante consegue que a noiva ou jovem esposa fique grávida, porque aí terá que abandonar o trabalho ou os estudos, para ser uma mãe dedicada em tempo integral. A partir da gravidez um novo homem começa a aparecer. Se antes era zeloso, carinhoso, paciente, dedicado, por vezes até humilde e suplicante, querendo o tempo, atenção e carinho da namorada ou esposa, agora começa a relaxar. Chega mais tarde em casa, fica mais tempo com os amigos, fica mais impaciente com a esposa. Ao nascer o filho relaxa mais ainda. Mulher com um recém nascido é mulher bem presa, não oferece perigo importante, é pouco cobiçável, tem pouca mobilidade. O doce e dedicado namorado vai tornando-se arrogante, dá ordens, é ríspido, discute, impõe seus desejos, quer ser servido, não a ajuda cuidar do filho, arranja desculpas cada vez mais freqüentes para chegar tarde em casa, alega compromissos no trabalho ou simplesmente estava com os amigos, por que os homens precisam disto.

Muitas vezes já ouvi a esposa dizer: ‘Ele está casado mas quer ter vida de solteiro’. Cuidando de um bebê, sem profissão, afastada das amizades e da família a mulher fica refém da situação. Chora em silêncio, se amargura e tenta dedicar-se ao filho, tirar da maternidade sua principal alegria. Com o tempo o filho cresce um pouco, ela começa a pensar em voltar aos estudos ou trabalhar. Ele dificulta ao máximo, fica bravo e começa a desejar ter mais um filho. Se teve uma menina, agora quer um menino e vice versa. Alega que filho único fica mimado e problemático. Insiste, insiste até que a mulher cede porque em geral gosta de ser mãe, acha que dois filhos ou um casal é melhor do que filho único. Com um novo bebê no lar o marido respira aliviado. ‘Agora fica mais difícil ela sair fora’. O casamento vai ficando cada vez pior.

Depois que os dois filhos já cresceram um tanto ela fala em separação. Mas com freqüência não tem para onde ir. Muitas vezes a família de origem não a quer de volta com 2 ou 3 filhos e sem renda. Como não se profissionalizou, se volta a trabalhar ganha pouco, não tem quem fique com os filhos, ou estes ficam mal cuidados. Muitas vezes mantém o casamento para não prejudicar os filhos. Aceita ‘servir’ ao marido sexualmente, porque já perdeu completamente o interesse nele depois de tanto sofrimento e decepção. Quando o recusa sexualmente há brigas violentas, verbais ou corporais. Ele a acusa de adultério. ‘Se você não me quer é porque está com outro’. Alguns homens ameaçam: ‘Se você separar de mim eu te mato e mato a tua família’. Muitas se conformam, se calam e vão levando.

Outros homens, não tão ferozes, quando a mulher se separa e volta para a casa dos pais, fazem assédio intenso. Choram, se dizem arrependidos, pedem perdão de joelhos, dizem que vão mudar, que querem mais uma chance, que ele não soube dar valor a ela, que não consegue viver sem ela, que vai se suicidar. Por semanas ou meses vigiam o tempo todo, não dão trégua, a procuram infindavelmente querendo conversar. Muitas mulheres então, na doce ilusão de que terão um marido melhor, já que ele soube reconhecer seus erros em público e com tanto sentimento, voltam a morar com ele achando que agora vai valer a pena, vai ser feliz.

Por algumas semanas ou meses ele fica melhor e aos poucos tudo vai voltando ao normal, ou então fica pior do que antes, porque o homem quer vingança por ter se humilhado tanto para tê-la de volta. Se for bastante esperto, faz com que ela engravide ainda no período em que está ‘bonzinho’, tentando convencê-la de que é um novo homem e que um filho vai unir o casal nesta nova fase.

O desfecho deste tipo de casamento é variável. Quando a mulher fica, às vezes torna-se depressiva e dependente de remédios psiquiátricos, outras vezes desenvolve doenças corporais graves. Às vezes consegue separar-se e refazer sua vida com outro homem, ou então depois de separada vive apenas para ser mãe, temerosa dos homens em geral.

Casar-se e ter filhos com um homem assim não é destino. É escolha. É imprudência. É preciso conviver longamente com alguém antes de decidir-se casar e ter filhos. A mulher que quer ser dona da própria vida necessita ficar alerta para não se deixar seduzir pela pressa masculina por casamento e filhos. Ter uma profissão, estudar o máximo para ter renda suficiente, jamais renunciar à própria carreira em prol de marido e filhos, manter laços íntimos com amigos e família. Não se isolar. Ter uma rede de apoio que possa ajudá-la a pensar e dar-lhe abrigo em caso de necessidade. Jamais renunciar ao sonho de viver um grande amor, ser exigente, não ficar com um homem cheio de defeitos apenas por medo da solidão. Se a solidão amorosa é ruim é ainda apenas um purgatório. Casar e ter filhos com um mau marido, isto sim é o inferno na Terra. Não precisamos passar por isto.

Comentários
  • Mithel 3937 dias atrás

    Estou com depressão as vezes nem tenho vontade de viver mas ele nao quer ter responsabilidade alem de ser ciumento nao quer trabalhar, quer me manipular como se fosse meu dono, o pior é que ainda gosto muito dele, estou sofrendo, sei que ele tambem.

    • Gleice 3800 dias atrás

      Mithel, vc não gosta mais dele, acredite, algumas pessoas fantasiam esse sentimento quando na verdade apenas estão acostumadas com ele e isso não é amor, mas passa, vai ser feliz, quando menos se espera aparecerá um homem que a fará feliz.

  • Mithel 3937 dias atrás

    Eu tambem estou no mesmo dilema conheci um rapaz tinha 20anos ficamos, namoramos, ele era muito ciumento e possessivo, me afastei de meus amigos por conta dele ai começaram as agressões de um simples tapa foi pra murros e acabei ficando com o olho roxo, dei queixa com pena, voltei pra ele, disse que ia mudar, comecou a trabalhar, ficou por 2 anos, por ficar faltando foi demitido, depois nao trabalhou mais, comecou a beber, me agredia, olhava meu celular, meu face, tinha ciumes de tudo e de todos, ficamos juntos por 14 anos sem morar juntos, ele só me enrolando, dizendo que ia casar terminei em 2013, estamos separados ja faz 5 meses, mas ate hoje ele me ameaca de morte por que me separei dele, ja dei queixa na delegacia da mulher a audiencia e agora em agosto e que deus me proteja dele

  • Fabiana 4031 dias atrás

    Esse texto é de utilidade pública, que deveria ser mais divulgado. Acho que as mulheres caem nessa “armadilha de amor” por acreditar em histórias de amor, não digo que não possamos ter um relacionamento saudável, mas o desejo imenso de viver um romance nos faz criá-lo onde não há espaço para isso, ou seja, com pessoas erradas. Infelizmente, em nossa sociedade machista, os homens estão muito mal acostumados e tratam as mulheres como objetos, propriedades que estão ali para servi-los quando e como quiserem. Já as mulheres, com a visão latino romântica acreditam que é sua função fazer o homem mimado feliz e quanto mais ela faz para agradá-lo, mais ele se sente no poder de reclamar e exigir. É uma bola de neve e acredito que essa cultura é ruim para ambos os lados, tanto para o agressor como para o agredido (no caso, a mulher).
    Penso que deveria haver uma conscientização desde a escola, para que as crianças aprendem uma nova visão de relacionamento, já que nas casas as histórias se repetem e pior que a maioria nem percebe que é vítima de abuso ou é o abusador. Infelizmente, o índice de criminalidade de violência contra a mulher é altíssimo e não vejo outra saída que não seja a educação. Parabéns pelo texto, muito útil a sua contribuição.

    • Carlos Bittencourt Almeida 4027 dias atrás

      Fabiana
      Obrigado pelo teu comentário. A grande dificuldade neste tema é que há excesso de maus exemplos, tanto entre os homens ditatoriais e violentos, quanto entre as mulheres frequentemente submissas e medrosas. O mêdo da solidão é aquilo que move as más escolhas. Quem não consegue se privar de um relacionamento pouco saudável, vai afundando cada vez mais. No desenvolvimento da capacidade de extrair alegria da vida, fora da relação amorosa, é que está a esperança. Para escolher corretamente é preciso saber esperar, ter paciência, guardar a carência sem desesperar.

      Só podemos dar aquilo que vivemos, aquilo que somos. Seja na escola, seja no lar, as crianças e os jovens aprendem o que veêm e percebem acontecendo. Não é o que dizemos que tem força para inspirar um caminho, mas aquilo que somos capazes de irradiar pelo exemplo. Aquele homem que sabe valorizar e respeitar uma mulher é que poderá estimular meninos e homens jovens para o verdadeiro amor. Aquela mulher corajosa, que sabe escolher, que sabe esperar, que é firme para exigir respeito e amor verdadeiros, é que poderá inspirar meninas e mulheres jovens. Não adianta ensinar teorias sobre este assunto, dentro do currículo escolar. O tema será torcido até chegar àquilo que aquele que ensina é, no seu cotidiano.

      Eu sou daqueles que acredita que um grande amor pode existir entre um homem e uma mulher, um amor verdadeiro que dura anos e sobrevive às dificuldades do cotidiano. Sonhar e desejar um grande amor não é o problema. O problema é ser cego, não querer ver a realidade, mentir para si mesmo colocando a esperança numa relação impossível, que dá evidências frequentes no sentido destrutivo. Se tivermos paciência, persistência, inteligência e coragem o grande amor pode ser vivido, não na sua perfeição impossível, mas como fonte de grandes alegrias reais , que sobrevivem à passagem do tempo.

  • clemilda 4037 dias atrás

    Oi, tenho 26 anos e sou casada há 8 anos meu marido é extremamente ciumento a ponto de não me deixar ir na casa de meus pais, eu só vou lá de 6 em 6 meses e olhe lá, eu tambem ja sofri agressões fisicas no começo era tantas brigas ele dizia que eu traía ele e isso nao passava nem por minha cabeça, então eu morava com minha sogra, aí ele me levava pro nosso quarto me batia que eu faltava era perder a voz, amanheçia com as costas toda roxa, ele me dizia que enquanto eu não confessase para ele eu iria viver apanhando, sendo que eu nao tinha nada para confessar, entao tomei 20 comprimido carptopril remedio para controlar pressao passei muito mal fui parar no hospital, então falei para a mae dele que eu iria me separar, ela falou que eu estava louca porque um homem que só sai comigo e põe tudo dentro de casa, quero sair dessa vida mas tenho medo da solidão, quero um conselho, me ajude obrigado

  • clara 4053 dias atrás

    Esse texto e todas as historias são tristes, passo por isso, na adolescencia eu tinha medo de ninguem gostar de mim e me entreguei, e por ser coagida, ele falando que ia me largar me entreguei e acabei ficando gravida, ai casei e tive dois filhos e qdo os meninos eram pequenos esta tudo bem, mas agora com eles grandes, penso em estudar, ter amigos, mas me sinto presa pois meu marido nao libera e me diz muitas palavras dificeis, e nao tenho coragem de contar pra ninguem, me sinto presa num mundo triste.

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