onde vejo primeiro os ipês-rosa florindo
depois vem a explosão de amarelos
a contrastar com o mato ressequido em volta.
onde vejo até o horizonte a sequência de dunas
que o vento pacientemente remodela
sob a luz inclemente do sol a reverberar na areia.
tonalidades mais claras no decorrer do dia
em gradações que vão do branco ao marrom
ao crepúsculo os montes de um lado escuros
revelam-se dourados na face inclinada para oeste.
asteroides tracejam a abóbada
estrelas vicejam em ouro incandescente
buracos negros se adivinha a bilhões de anos luz
engolindo a poeira cósmica das galáxias
entre o torvelinho explosivo dos blazares.
arbustos de troncos distorcidos espalham-se no chão pedregoso
enquanto atrás – sobre os montes de areia
o luar descobre um cenário marchetado de sombras e luz
no dorso do oceano de ondas congeladas.
o retrato amarelecido de meu pai
lança-me um olhar compassivo
em que parece querer me convencer
do quanto traiçoeiro é o tempo
e do quanto há de paradoxal em suas hélices
que sempre nos leva ao abismo do Nada.
Comentários
Tenho compartilhado seus poemas NO FACE como uma forma de mostrar meu orgulho por ter o privilégio de ler este jeito QUASE DIVINO de contar o que precisa ser contado e sabido.
Engraçado que a paisagem vista da minha varanda não seja tão diferente. É o ocaso, será o acaso? O que vejo todos os dias são esses cenários que o poeta magistralmente registra em versos. O meu olhar em suas palavras. Poesia.