Refugiados incham cidades do 3º Mundo

Publicado por Antonio Carlos Santini 29 de janeiro de 2010


O recente terremoto no Haiti concentra novamente olhares e mentes sobre a situação dos refugiados em todo o planeta. Quase 50% dos 10,5 milhões de refugiados sob acompanhamento do Comissariado da ONU Para os Refugiados, ACNUR, vivem atualmente em centros urbanos. Entretanto, calcula-se que o número de deslocados internos e repatriados que vivem nas cidades pode duplicar esta cifra.

Sem pátria e sem raízes

Expulsos de seu torrão natal em razão de desastres naturais, inundações, conflitos étnicos, perseguição política ou intolerância religiosa, cresce sempre mais a legião dos homens e mulheres sem pátria e sem raízes culturais.

“Precisamos deixar para trás a imagem ultrapassada de que a maior parte dos refugiados vive em acampamentos imensos geridos pelo ACNUR”, disse o Alto Comissário do órgão, António Guterres. “Estamos sendo testemunhas de que cada vez mais e mais refugiados residem no meio urbano”. Guterres fez estas declarações antes do início do “Diálogo do Alto Comissário sobre os Desafios da Proteção”, evento anual que teve lugar nos dias 9 e 10 de dezembro de 2009, em Genebra, Suíça.

A cidade inflada

A população urbana quadruplicou durante os últimos 60 anos, passando de 730 milhões de pessoas em 1950, para 3.3 bilhões em 2009. Também os refugiados estão-se deslocando de maneira progressiva para as cidades, especialmente em países emergentes. É uma tendência que tem acelerado desde os anos 50. Cerca de 80% da população urbana em breve estará concentrada em médias e grandes cidades nesses países.

Guterres afirmou que os direitos fundamentais de proteção e acesso aos serviços dos refugiados precisam ser respeitados onde quer que eles estejam, seja nos acampamentos ou nas cidades.

De acordo com as últimas estatísticas, a capital do Afeganistão, Cabul, teve sua população aumentada em sete vezes desde 2001. Muitos dos novos moradores são antigos refugiados que regressaram do Irã ou Paquistão, ou deslocados que fugiram da violência das áreas rurais do país.

Tanto a cidade de Bogotá, na Colômbia, como Abdijan, na Costa do Marfim, absorveram centenas de milhares de vítimas de conflitos armados, que se acumulam em subúrbios carentes de serviços básicos. No Oriente Médio, as cidades de Damasco, na Síria, e Amã, na Jordânia, se converteram em santuários para centenas de milhares de iraquianos que se viram obrigados a fugir de seu país.

Luta pela sobrevivência

O comissário do ACNUR demonstra preocupação com esses refugiados obrigados a viver em favelas e subúrbios superpovoados. A maioria se vê forçada a trabalhar na economia informal, vendo-se exposta à exploração e ganhando a vida com dificuldade. Muitos preferem permanecer “invisíveis” por medo de serem expulsos, o que dificulta seus registros e identificações.

A difícil acolhida

A chegada massiva às cidades de pessoas deslocadas à força gera uma disputa acirrada pelos escassos recursos públicos, tais como a saúde e educação, e tende também a provocar um aumento nos preços dos serviços básicos, como comida e habitação além de deteriorar as condições ambientais.

Os refugiados urbanos costumam viver ao lado de cidadãos locais e imigrantes que buscaram nas cidades uma melhor qualidade de vida, o que tende a gerar tensões entre os dois grupos e, no pior dos casos, xenofobia com resultados catastróficos. Exemplo semelhante aconteceu na cidade de Albina, no Suriname, antiga Guiana Holandesa, onde a comunidade de imigrantes brasileiros ligada à atividade de garimpo foi atacada com golpes de facão e outras armas brancas por moradores locais descendentes de quilombolas.

Neste contexto instável e em constante mudança, o ACNUR enfrenta um desafio básico: como identificar e chegar aos refugiados. “Apesar de se tratar de um problema global, as condições variam enormemente de uma região para outra e a resposta é essencialmente local”. Por esta razão, o ACNUR não só trabalha em cooperação com os governos nacionais, mas também considera de importância crucial o papel dos municípios e autoridades locais, das agências humanitárias e à própria sociedade civil. “Eles podem fazer uma grande diferença”, acrescentou Guterres.

Comentários
  • Cezarina Almeida – Ribeirão das Neves – MG 5360 dias atrás

    É preciso que mudemos nossos comportamentos, e percebamos que o mundo do qual fazemos parte é de todos e que somos muito pequenos diante de tantos planetas, é preciso conscientizar as outras pessoas e a nós mesmos de que todos têm direito à vida e à dignidade, somos uma única especie, éspecie de seres humanos.

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