Sinal dos tempos

Publicado por Antonio Ângelo 14 de agosto de 2017
sinal dos tempos

sinal dos tempos

Havia aqui um cinema
onde assistíamos filmes diversos
romances – faroestes – comédias
havia sim aqui um cinema.

Era nesta avenida de cidade grande
em que agora imperam o alarido dos ônibus
carros sem conta, corre-corre de pessoas
loucura de sirenes e buzinas.

Gente em quantidade absurda
gritos de camelôs nas calçadas
nos pontos dos lotações os que esperam
o retorno inglório a suas casas
após um dia de estafante rotina.

Sim, havia aqui um cinema
onde namorados enlaçados
anestesiados pelo éter da paixão
emocionavam-se ante histórias
de amores e fatalidades sem fim.

Às vezes lágrimas furtivas escorriam nas faces
entre reflexos que vinham das imagens
mãos cativas, olhares cheios de paixão
na sensação íntima e confiante
de que ali o amor que começara num gesto
persistiria em desdobramentos de entregas
tais como as que transcorriam na tela.

Havia sim aqui um cinema
onde agora espadas de fogo
se erguem ameaçando pecadores
e onde se anunciam milagres e promessas de paraísos
tão improváveis quanto os “happy end”
dos filmes de outrora.

Comentários
  • Sebastião Verly 2421 dias atrás

    Sua percepção, razão e sensibilidade nos presenteia com obras fascinanes como esta. Abri mão do priviléio de l|ê-lo por aqui para compartilhar com outros amigos por e-mail e facebook. |Mais uma vez tenho de elogiá-lo merecidamente. Este Sinais dos Templos, digo, Tempos, é tudo que todo bom escritor gostar de esrever. Mas, a gente fica muito feliz de poder guardar para semrpe até que possamos tê-lo em livro impresso.

  • aminthas 2442 dias atrás

    Sinal dos tempos nos roubou filmes da nossa infância .No cine pathé assisti a musa live hulman de ingmar bergerman . Hoje nos enviam ao inferno por um simples beijo nas casas que outrora havia um cinema.Grande Abraço meu amigo

  • wesley 2445 dias atrás

    Isso aí, caro amigo. Sinal dos tempos. Mas é outra a nossa igreja, outra é a nossa religião. À poesia, sim, confessamos nossos pecados, agora e sempre. Amém.

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