O pêndulo nos arrabaldes

Publicado por Wesley Pioest 11 de maio de 2020

O pêndulo nos arrabaldes

O poeta, qual enxadrista,
avança, peça a peça,
sobre o tablado
onde dançam, entrelaçados,
os tempos todos em que ele,
o poeta, se refestelou.
Delira perante a vitrine:
ali expostas,
uma a uma, as palavras
que escreveu com seu sangue,
desde a juventude,
o inevitável caminho.
Eis o script ante seus olhos
de bardo
que primeiramente os óculos
e depois as larvas
moldarão – ossos do ofício
da sagrada mãe natureza.
Terá a fala a seu favor
e, como servos, os caracteres
que logo se dissiparão
ante a barca rasa e o rio escuro.
Instalado dentro do espectro
moverá as peças inutilmente
porquanto o tempo reside
imóvel, em antiga estação,
dentro de suas longevas retinas.
O poeta, como os que amavelmente
lhe precederam, avista algo
e esse algo o desloca entre
a ignorância e a sabedoria.
O trem que o leva,
atravessa, sem ruídos,
o apartamento,
a esquina distraída,
o amontoado de entregadores.
Nas têmporas grisalhas
do poeta o inverno se anuncia.
Ele declina do meu convite,
abre um sorriso
e sussurra um até logo.
Travará o seu combate,
cumprirei a minha sina.
Em breve nos encontraremos.

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