Marina Jardim – Cor & Movimento

Publicado por Sebastião Verly 15 de setembro de 2010

Estive na bela exposição da artista Marina Jardim. Cor & Movimento: título mais que apropriado. Eu ainda acrescentaria o amor que está implícito em cada tela, em cada ponto de tinta, e em cada Cor. Vi e revi sua bela pintura. De parabéns os simpaticíssimos Joubert e Maristela, e toda a equipe da galeria de arte do SESC-BH, que estão retornando em grande estilo. Maristela prestativa e solícita era mais que uma curadora.

A luz dos spots, realçando o colorido dos quadros, animava os fotógrafos que buscavam os melhores ângulos para registrar as emoções dos visitantes.

A artista chegou com os filhos trajando um lindo vestido “de noite”, como diria um colunista social. Uma noite que valeu a pena! Não somente pela feliz combinação do vinho chileno “Cosecha Tarapacá” Cabernet Sauvignon com o queijo cabaça de Rubim, terra natal da artista, servido numa “gamela” artisticamente esculpida em forma de peixe.

Além dos familiares da pintora, gente das mais agradáveis rodas de artistas e intelectuais, no bom sentido. Forte sotaque do Rio Jequitinhonha, cidadela inexpugnável da cultura popular brasileira. Procurei conhecer um pouco mais daquela gente simpática. De muitos, eu soube apenas o primeiro nome, de outros não consegui, ficou para a próxima oportunidade, que certamente será em breve.

Conheci pessoalmente o poeta Gonzaga Medeiros que estava com Rosana e filha, a linda e inteligente Luíza, de dez anos. Carlos Dijon, produtor musical e irmão de Paulinho Pedra Azul e de Dijon Morais Junior, reitor da UEMG. João Laranjeira e Gaia, donos do Restaurante Arrumação, ele irmão do grande animador cultural Saulo Laranjeira. O músico Carlos Farias com Jucélia, ele que ficou conhecido internacionalmente por seu trabalho com o Coral das Lavadeiras de Almenara. O produtor cultural Luiz Trópia, da Sociedade Mineira de Folclore, o também músico Jairo Lara, oriundo de Divinópolis, acompanhado de Rosângela.

Não apenas de Jequitinhonha vive a arte. Me emocionei ao rever meu conterrâneo de Pompéu, o Milton Afonso, que eu não via há 50 anos. Ele consegue viver de arte nesses tempos globalizados, vendendo suas aquarelas aos domingos de manhã na Feira da Avenida Afonso Pena. É também escritor, e, cabe mencionar, irmão do grande constitucionalista pompeano José Afonso da Silva. Recordações daqueles tempos e lembranças dos livros que ele deixou em Pompéu, na casa da Dona Elza Afonso Tavares, sua prima, que ajudaram a criar em muita gente o gosto pela literatura.

O assunto era arte e cultura. Um casal ligado ao SESC-BH chegou com um belo arranjo, retirou a toalha da mesa central e ali armou sua arte. Deslumbrante! Outro cidadão, também da casa, mencionava uma próxima exposição de fotografia, quando ele descrevia para as pessoas em sua volta, como ficaria aquele espaço. A sua fala sobre cultura acabou descambando para o cinema. Contou, por exemplo, que vira o filme “O pequeno Nicolau” e mostrava o braço arrepiado só de falar da bela película. E concluía com certa força na voz: “E este filme não vai passar em Minas. Pode uma coisa dessas?”

O assunto passou pelos melhores filmes das épocas áureas do cinema. Almodóvar, Carlos Saura, Buñuel, Kurosawa, Bergman, Fellini, Einseinstein. Outro interlocutor, também amigo e igualmente do Vale do Jequitinhonha, tomou a palavra para relatar a quantidade de bons filmes que vem colecionando. E disse que até para os sobrinhos só empresta os vídeos mediante um documento com data para entrega. Completou dizendo que muitos foram adquiridos em lojas simples que os vendem sem ter a noção da raridade e preciosidade. Só de ouvir os títulos que ele mencionou já dava para entusiasmar-me. Saudade dos bons filmes de outrora…

Ele concluiu, ao final, da beleza da pintura da Marina, mas explicava que no nosso sistema, é preciso mais do que arte e talento: é preciso marketing bem feito. Contou-me o caso de uma música dessas sem nenhum conteúdo, melodia, ritmo ou harmonia, que bastou um renome do futebol tocá-la em público para virar sucesso. A pintura da Marina é marcante. Já escrevi o que ela me disse que o amor é a essência que permeia toda a sua arte, o que é percebido pelos admiradores de sua obra. Os grandes colecionadores têm a oportunidade de acrescentar ao seu acervo a beleza que ficará para sempre, a força de suas pinceladas e cores assumidas.

Para encerrar quero escrever que adoro o clima das vernissages, exposições, lançamentos de livros, inaugurações e mostras culturais, que acontecem sempre em nossa BH. Houve época em que eu pesquisava nos jornais e escolhia as melhores. Com isso, tal como pretende o enredo do livro “Clube do Filme”, eu espero melhorar minha qualidade de vida, conviver com gente alegre, imaginativa, sair do tédio do “bate-carimbos” do dia-a-dia.

Este finalzinho dedico a um dos visitantes da exposição da Marina, cabelos brancos batendo nos ombros, roupas simples, barba aparada, um profeta popular que vejo há alguns anos em quase todos os eventos culturais que freqüentei. Ele chega, faz uma inspeção geral, passa no Buffet, escolhe a melhor bebida, enche a mão de salgadinhos e procura uma pessoa que está só para bater um papo. Recolhe catálogos e folders sobre a mesa, e quando alguém lhe dá atenção, discute o estilo de cada um dos artistas e escritores ali anunciados. Depois de umas tantas rodadas de salgadinhos e bebidas, ele sai à francesa, tendo o cuidado de, alguns momentos antes, acenar para alguns presentes. Fiquei pensando se tantos banhos de vernissage e lançamentos terão feito dele um homem culto e sensível.

E agora rio comigo mesmo, fico imaginando que ele deve se perguntar o mesmo sobre mim, depois de nos encontrarmos tantas vezes nessas ocasiões.

Catalogo Marina Jardim

Comentários

Deixe um comentário

banner

Fundação Metro

Clique Aqui!