Brinquedos e brincadeiras – parte II

Publicado por Sebastião Verly 12 de novembro de 2014

parque

Para brincar, valia toda criatividade. Dois, quatro, seis ou oito sabugos de milho viravam juntas de bois e puxavam carrinhos feitos mais caprichadamente pelos pais ou, toscamente, pela própria criança. Além disse os bois puxavam madeira e outros pequenos materiais. Uma “fazendinha” poderia ser feita com pequenos pedaços de madeira, onde vacas, bezerros e porcos, quando não eram também de sabugos, eram de frutas caídas prematuramente das árvores como pequenas laranjinhas, mamões, manguinhas e outras.

O espaço e a cultura lúdica são essenciais para o correto conceito de brincar. No interior, os quintais e as ruas serviam de local para as brincadeiras. Hoje em dia, temos os parques e ainda é preciso abrir a mente, especialmente, das professoras para usar os parques como complemento essencial para as brincadeiras escolares. Nas fazendas, onde era possível maior movimentação pelo terreno, os pais chegavam a fabricar carrinhos puxados por cabritos para que os jovens treinassem o manejo com os carros de bois.

A brincadeira de casinha rendia mais participantes quando o guisado era verdadeiro. Podia ser um pouco de arroz, (feijão, não, porque demora cozinhar), chuchu, tomate ou outra verdura, menos jiló que as crianças achavam amargo. Comia-se de vera. Até um docinho de sobremesa, às vezes, se conseguia. Outras vezes, era apenas de brincadeirinha com sementes de fedegoso representando o feijão e sementes de capim, o arroz. A comida era simulada. Na maioria das vezes, formavam-se “duas famílias” que se visitavam e trocavam cortesias com casos semelhantes aos adultos. Em geral, levavam os filhos e deles falavam.  Quando o espaço era favorável construíam-se cabanas como casinhas de verdade. O imaginário sempre funcionava e era comum que algumas crianças fizessem o papel de pais, mães, filhos e filhas. O comadrio também era bastante usual.

Os meninos “faziam negócios” trocavam bois e animais em geral. Logo que aprendiam a ler conseguiam fazer ferros para marcar os sabugos como se fossem as marcas do fazendeiro. Para os garotos, os brinquedos eram limitados apenas pela criatividade. Inventava-se quase tudo. Desde cavalos de pau, espingardas para caças e revólveres quando a brincadeira era de mocinho e bandido. Lembro-me dos banhos nos córregos nem sempre higiênicos e mesmo as jangadas feitas de pés de bananas ou paus de piteira. O “pique” (pegador ou esconde-esconde) de pegar ou esconder era permitido aos diferentes gêneros. Meninos e meninas corriam com a mesma velocidade.

A brincadeira de Boca de Forno também era boa para se exercitar completamente. Brincam um mestre e os demais participantes. O diálogo é assim: MESTRE: “Boca de forno” DEMAIS: “Forno” MESTRE: “Vão fazer tudo que o mestre mandar?” DEMAIS: “Vamos” MESTRE: “E se não fizer?” DEMAIS: “Três bolos” Aí, o mestre manda os participantes buscarem algo. Quem trouxer primeiro, será o novo mestre, os demais, levarão palmadas. E assim por diante.

A começar pelo velocípede, depois a bicicleta com rodinhas laterais, e as bicicletas, aros 22, 24 , 26 e até 28 completam essa fase da brincadeira mais esportiva individual. Já nos anos 1950, surgiram os carrinhos de rolimã, feitos com velhos rolamentos que eram bem uma fábrica de escalavrões. Quedas e mais quedas. A Perna-de-pau era brinquedo tradicional, geralmente fabricado pelas próprias crianças. Consiste em duas hastes de madeira ou bambu que têm, cada uma, um pequeno degrau fixado a uma certa altura – vinte a quarenta centímetros da extremidade inferior. Com os pés apoiados nos degraus, e as mãos segurando firmemente na parte superior da perna-de-pau, as crianças andam pelo espaço disponível, procurando equilibrar-se. Muitos fazem corridas utilizando as pernas de pau, depois de muita experiência e quedas.

A brincadeira Morto-vivo é mais tranquila. Crianças lado a lado de frente para uma que estará sentada. O que comanda grita bem alto: “Morto!” para todos se abaixarem e “Vivo!” para se levantarem. Quem errar, sai da brincadeira. O vencedor é aquele que ficar por último. Ainda para propiciar exercícios o Carneirinho / Carneirão uma Brincadeira de roda, onde as crianças de mãos dadas cantam girando: Carneirinho, carneirão, neirão, neirão, Olhai pro chão, pro chão, pro chão. (Toda a roda obedecendo olha para o céu e para o chão) Manda ao rei de Portugal (ou Madalena) Para nós nos sentarmos. (Todos se assentam, e, sempre de mãos dadas, cantam o estribilho) Carneirinho, carneirão Olhai pro céu; Olhai pro chão; Manda ao rei de Portugal Para nós nos levantarmos. (Todos se levantam, e, sempre de mãos dadas, girando cantam o estribilho) Carneirinho, carneirão …

A brincadeira do túnel também exercita fisicamente. Jogam duas equipes com número de participantes iguais. Cada equipe formará um túnel, onde os participantes ficam um atrás do outro com as pernas abertas. É uma espécie de corrida. No “Já” do mestre, o último de cada fila deve passar por debaixo do túnel e ir para a frente. Depois, o último faz a mesma coisa. Desse jeito, o túnel de pessoas irá se distanciando para frente cada vez mais. Ganha o túnel que cruzar a linha de chegada em primeiro lugar. Uma variante desta era o “pular carniça” em que uma criança abaixava ou encurvava na frente das demais e uma a uma elas iam pulando e colocando-se logo a seguir na mesma posição para que as demais prosseguissem na brincadeira.

Comentários
  • verly 3651 dias atrás

    Fico feliz ao ver estes textos divulgados. Muito obrigado.

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