Noiva do Cordeiro – parte IV

Publicado por Padre Joao Delco Mesquita Penna 24 de março de 2022

Noiva do Cordeiro - parte IV

Comunidade Modelo

No centro da história da comunidade da Noiva do Cordeiro estão as experiências de sofrimento e rupturas relacionadas à religião, à fome e à estrutura familiar patriarcal. A  comunidade passou por grandes mudanças e hoje o antigo casarão colonial é utilizado para o trabalho e vivência comunitária. Grande parte das mulheres se ocupam da lavoura, outras assumem o cuidado das crianças. Além disso a comunidade conta com uma fábrica de roupas e de produtos artesanais que são vendidos para as lojas da região e da capital.

A palavra “excomunhão” vem do latim ex-communio, ou “fora da comunidade”. A princípio o excomungado é temporariamente exilado a fim de que se arrependa. Mas não perderia a condição de fiel, já que o batismo não pode ser apagado. “A excomunhão seria então uma sanção penal. Não significaria a condenação eterna”. Assim na teoria, a excomunhão seria simplesmente um grande puxão de orelhas, mas foi assim na prática? Não, a pratica da excomunhão na história da Igreja levou à exclusão, maldição e condenação eterna!

Para a Igreja católica, um casamento religioso não pode ser desfeito e o direito canônico, ao considerar as pessoas que voltaram a se casar como infiéis ao primeiro cônjuge, prevê a sua exclusão dos sacramentos, entre os quais a comunhão. Essa é uma sanção mais grave, que implica também exclusão da comunidade.

Com o passar do tempo a excomunhão virou arma ideológica. Em 1984, o ex cardeal Joseph Ratzinger, depois eleito Papa Bento XVI, condenou o teólogo Leonardo Boff a dois anos de “silêncio obsequioso” por defender a Teologia da Libertação, chegando a considerar a exclusão definitiva do brasileiro.

Com o Papa Francisco uma nova visão começa a predominar na Igreja. Os divorciados que voltaram a se casar “são parte da Igreja” e não “devem ser tratados como excomungados”, afirmou o papa Francisco sob aplausos na sala Paulo VI, antecipando um dos temas mais polêmicos do Sínodo dos Bispos sobre a Família, previsto para outubro de 2022.

“Progrediu muito a consciência de que um acolhimento fraternal e atento, com amor e verdade, é necessário para os batizados que estabeleceram nova relação depois do fracasso de um casamento sacramentado”, acrescentou o pontífice. Francisco pediu que se distinguisse, em alguns casos, entre “quem foi confrontado com a separação e quem a provocou” e insistiu: “Nada de portas fechadas. Todos podem participar, de uma forma ou de outra, na vida da Igreja Católica.”

“Atos de excomunhão, muitas vezes, são fruto de estratégia teológica”, afirma o historiador italiano Alberto Melloni. Como essa estratégia varia ao longo do tempo, as alterações em seu uso ajudam a entender a evolução da própria Igreja. “A excomunhão medieval, de caráter político, tornou-se inócua. Na Inquisição, ela foi marcada pelo fanatismo. Hoje, tem fundo ideológico”, diz a historiadora Maria Tausiet, da Universidade de Saragoça, na Espanha. Ou seja, mais que uma avaliação sobre a pessoa punida, a medida é também um juízo sobre quem excomunga. Nesse sentido, a Igreja também está no banco dos réus.

Noiva do Cordeiro hoje é modelo de vida comunitária! Uma comunidade rural forjada ao longo de mais de um século, num processo de constantes rupturas religiosas, familiares e ideológicas, esse inusitado modo de vida produziu uma comunidade autônoma, com uma economia solidaria, com sujeitos autônomos e responsáveis uns pelos outros, que se tornaram lideranças sociais e políticas, modelo para a sociedade brasileira e até mundial.

Comentários
  • Maria Eugênia Samartini 679 dias atrás

    Acho que todos brasileiros deveriam conhecer sobre essa sociedade, Noivas do Cordeiro. Modelo de economia solidária e de humanismo social. Muito interessante.

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