A Guerra dos Emboabas – Parte III

Publicado por Padre Joao Delco Mesquita Penna 3 de agosto de 2021

Borba Gato, Manuel de – Guarda Mor do Distrito das Minas do Rio das Velhas
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A Guerra dos Emboabas
Estátua de Borba Gato, Avenida Santo Amaro, Zona Sul de São Paulo, capital

Como já fizemos referencias em artigo anterior, os bandeirantes paulistas foram os desbravadores da região das Minas do Ouro, que foi destacada da Capitania do Rio de Janeiro e passou a fazer parte da Capitania de São Vicente, esta criada em 1534 tendo durado até o fim da Guerra dos Emboabas em 1709, sendo sucedida pela Capitania de São Paulo e Minas do Ouro (1709-1720). Os bandeirantes paulistas, provenientes da Vila de São Paulo de Piratininga, pretendiam obter a mercê real da exploração da nova riqueza, localizada no território desbravado por eles.
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O principal líder dos paulistas veio a ser, nada mais nada menos que o bandeirante Manuel de Borba Gato (1649-1718), que comandou os paulistas no conflito com os “emboabas”, os forasteiros que vieram para o território das Minas depois do anúncio da descoberta do ouro. Havia participado da importante expedição comandada por seu sogro Fernão Dias Pais, em busca das imaginadas esmeraldas pelas diversas regiões dos campos gerais, em especial nos vales dos rios Guaicuí, ou das Velhas e Jequitinhonha.
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Agora no fim de julho de 2021 o nome e a história do símbolo maior dos bandeirantes paulistas esteve em destaque na mídia brasileira e mundial e a sociedade brasileira foi surpreendida pelo noticiário informando que a estátua de dez metros de altura em sua homenagem, situada na Avenida Santo Amaro, próximo ao local onde teria nascido, um dos monumentos mais tradicionais da cidade de São Paulo, foi incendiada por manifestantes dos “movimentos periféricos” no dia 24 Julho.
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Inaugurada em 1963, a estátua tem sido alvo de críticas pelo papel de Borba Gato no avanço colonizador ao interior do país na época das bandeiras, desbravando terras com uso da mão de obra dos escravos negros e arregimentando coercitivamente os indígenas. Mas quem foi mesmo o bandeirante Manuel de Borba Gato? Que papel lhe reserva a história? Herói dos desbravadores paulistas ou déspota? Qual foi a sua contribuição no descobrimento do filão de ouro das Minas e sua relevância na ocupação do território brasileiro?
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Com este questionamento não pretendemos dar respostas definitivas ao debate que os autores do atentado iconoclasta dizem pretender suscitar na sociedade brasileira, nem muito menos induzir nenhuma conclusão ideológica, nossa intenção é de incentivar e trazer um pouco de luz ao debate.
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Manuel de Borba Gato, nascido em São Paulo de Piratininga em1649, era filho de João de Borba Gato e Sebastiana Rodrigues e foi casado com Maria Leite, filha do bandeirante Fernão Dias. O bandeirante vem de uma família de tradição desbravadora dos sertões. O pai João Borba Gato e seu tio Belchior de Borba Gato participaram de bandeiras importantes anteriormente. Belchior por exemplo participou da revolta contra os jesuítas e na Aclamação de Amador Bueno, em 1641. Borba Gato acompanhou de perto a caravana formada por seu sogro, Fernão Dias, cognominado o “Caçador das Esmeraldas” que partiu para o interior do território brasileiro em 1674, extrapolando os limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas. Depois da morte do sogro, acredita-se que por maleita em 1681, Borba Gato veio a se estabelecer em Sabarabuçu, nome que em tupi-guarani significa pedra reluzente, que deu origem ao nome da atual cidade metropolitana de Sabará, no limite de navegabilidade do Rio Guaicuí ou das Velhas.
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A Guerra dos Emboabas2
A Morte de Fernão Dias, tela de Antonio Parreiras

Terminada em 1681, a expedição que havia descoberto as pedras verdes que se acreditavam esmeraldas, mas que eram turmalinas, de menor valor, quando a caravana voltava para a vila, Fernão Dias morreu nas proximidades do rio das Velhas no local chamado Sumidouro. Com a morte do bandeirante, o comando da bandeira passou para Garcia Rodrigues Pais, filho mais velho, que prosseguiu o caminho de volta à vila de São Paulo. Mas antes de chegarem ao destino encontraram Rodrigo de Castelo Branco, ourives castelhano nomeado Superintendente-geral das Minas pelo rei Dom Pedro II de Portugal, e conforme lhe havia pedido seu pai, Garcia lhe entregou as pedras, tendo ele se dirigido para a Região pretendendo tomar posse das Minas. No entanto a carta que o apresentava mandava manter a autoridade e os direitos de Fernão Dias e seus sucessores em relação às minas que haviam descoberto. O fidalgo porém não aceitou compartilhar sua autoridade e se arroubou íntimo da Casa Real e exigiu plenos poderes acima de tudo e de todos.
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A medida não agradou nem um pouco a Borba Gato. No mesmo ano Castelo Branco foi encontrado morto no fundo de um despenhadeiro e segundo versões, dois criados de Borba Gato foram os autores do crime.
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Borga Gato foi obrigado a se refugiar no sertão, onde passou pelo menos quinze anos vivendo entre os selvagens. Durante o período em que estava desaparecido vasculhou a região das atuais cidades de Sabará e Caeté, nas proximidades do rio das Velhas, onde acabou encontrando um filão de ouro nas minas de Sabará, mas tem se notícias de sua presença até na Barra do Rio Piracicaba, atual Vale do Aço, bem como nos Rios Paraopeba e das Mortes, atual São João del Rei.
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O Governador do Rio de Janeiro no breve período de 1699 a 1702, Artur de Sá e Meneses, negociou com Borba Gato sua anistia em troca da informação de onde estavam as grandes pepitas. Feito o acordo ele foi nomeado Lugar tenente e depois Guarda Mor das Minas do Rio das Velhas, o mesmo cargo do enviado real por cuja morte ele foi responsabilizado. Novas descobertas foram surgindo e a região passou a viver a euforia do ouro.

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