Humanização pelo sofrimento – parte II

Publicado por Padre Joao Delco Mesquita Penna 10 de agosto de 2022

No altar
Enquanto recebia o tratamento de recuperação e cura, Deus permitiu que eu passasse por várias experiências de encontro com ele e comigo mesmo, o que me fez entender melhor o sentido da vida e as razões de estar aqui e ter que passar por certos momentos considerados difíceis, recheados de sofrimento.

Humberto Rohden, em seu livro: “Porque sofremos” nos ensina que “Não viemos ao mundo para gozar os objetos da vida, estamos aqui para realizar as razões de ser da nossa existência. A pessoa que passa por determinado sofrimento, pode não ter as condições de ser um renegado, mas pode pelo menos deixar de ser um revoltado e viver conforme as condições permitidas pelo criador.”

O importante mesmo é saber sofrer! O Sofrimento compreendido e aceito confere ao homem uma intuição estranha das coisas superiores. O ser humano que passa pela experiência do sofrimento, adquire o gosto pelas coisas que antes o desgostava. Adquire a facilidade de compreender o incompreensível e de ver as coisas invisíveis, com clareza e objetividade.

O ser humano que não for capaz de compreender esta dimensão da vida, continuará a ser profano, materialista, interessado somente nas coisas do corpo físico e de suas emoções. O sofrimento compreendido e aceito, faz a pessoa entrar numa atitude de serenidade e leveza que faz lembrar o adejar silencioso da borboleta, que apesar disto, que apesar do esforço vivido para sair do casulo, agora continua a trajetória da vida e o seu contato com a terra, fazendo entender que a vida continua.

Não podemos querer e desejar o sofrimento! Mas podemos aceitar o sofrimento como um meio e um caminho que conduz a uma experiência superior, que os não sofredores não adquiram ainda e muitas vezes não se interessam ou ignoram.

Vejamos o exemplo da borboleta: a lagarta passa por um longo processo de transformação para virar borboleta e poder voar. Exatamente no momento que parece ser o fim da sua vida, ela se isola, procura um lugar seguro e constrói um casulo ao redor de si mesma para se dar a segurança da transformação.

Esse casulo representa o mergulho que ela dá dentro do próprio corpo, dentro da sua própria existência, no qual não existe mais o externo, somente o interno. Mas a beleza desta analogia é a liberdade das borboletas, a alegria plena que traz a felicidade é o resultado de sua luta interior para sair do casulo.

Esta história poderá ser uma analogia da nossa trajetória de vida. A nossa vida é assim: todos nós temos nossas próprias lutas e testes, provação e missão aqui neste mundo, mesmo que recheados de sofrimento e dor físicas e emocionais, colocados pelo Criador do Universo em nosso caminho para nos tornar mais fortes, mais espirituais, mais justos e sobretudo mais humanos e maduros em nossas relações com o outro.

Algumas vezes o nosso esforço deve ser justamente onde podemos fazer a diferença que precisamos para continuar a trajetória de nossa vida. Às vezes um esforço extra é justamente o que nos prepara para o próximo obstáculo a ser enfrentado. Quem se recusa a fazer este esforço, termina sem condições de vencer a batalha seguinte e jamais conseguirá voar até o seu destino e fazer voos rasantes e maravilhosos, como o voo da borboleta depois de se livrar do casulo que a levou à metamorfose.

Precisamos entender a vida sempre como grande oportunidade de metamorfose, transformação, mudança de atitude em nosso interior, oportunidade de sair do casulo, que com o passar do tempo, vamos construindo ao nosso redor, com o intuito de nos proteger de nós mesmos.

Se Deus permitisse ao ser humano passar a sua existência sem quaisquer obstáculos, sem sofrimento e sem dor nos condenaria para sempre a uma vida atrofiada. O curioso nesta história é que cada lagarta tem seu tempo de casulo e seu tempo de borboleta.

Não há como forçar nem como acelerar o tempo sem o risco de perdermos o voo da borboleta! Precisamos ter calma, paciência, persistência e compaixão diante da nossa dor e diante do sofrimento e da dor daqueles que por vontade de Deus encontramos feridos de forma física, emocional, espiritual a beira do caminho.

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