Poesia
Futuro do pretérito
28 de abril de 2020
A cigana que me leu a mão não adivinhou que barragens se romperiam que ao fundo na paisagem ferruginosa existiria o que seria previsível o que seria incúria Não previu…
Despedidas
22 de abril de 2020
Conforme me disse o amigo Conceituadíssimo poeta bomdespachense Que almeja cadeira na Academia Não devo sair de casa Pois estou à beira dos sessentanos. A isso acrescenta minha consorte Alguns…
O ermitão em sua gruta
31 de março de 2020
Agora vejo Dentro do atroz confinamento, Que perdi minha sombra. Percebo agora Mas já deve fazer algum tempo. Uma sombra, afinal, não some Sem mais nem menos Do dia pra…
Mundo Asséptico
27 de março de 2020
Madame transita pela avenida Em reluzente Mercedes blindada Cruzando a cidade quase deserta Amedrontada pela epidemia Motoboys, caixas às costas, passam acelerados Mendigos sob marquises Em promíscuo abandono, faces emaciadas…
O que não fica para trás
12 de março de 2020
Das frestas do camburão Posso entrever retalhos de cenários mal iluminados Flashs da cidade onde vivo Subindo a Rua da Bahia, o Bar da Imprensa Lá – noite de sexta-feira…
Antes e depois da enchente
26 de fevereiro de 2020
Debaixo de alguma porta Entrará este poema. Quem sabe estragará os móveis Ensopará o fogão, a geladeira Estragará cama, sofá, tapetes. Debaixo da nuvem escura Desaguará este poema. Trincará talvez…