Nós somos os consumidores. Eles são os marqueteiros. Nós, de olhos e bocas abertas (todas elas!). Eles, de olho em nós.
Mas antes de olharem para nós, eles se ocupam em adivinhar nossos desejos, nossas ansiedades, nossas expectativas. É assim que eles poderão apresentar na telinha os produtos capazes de fazer a nossa felicidade ainda aqui, neste vale de lágrimas. Ou será que não?
Eles, os conspiradores, habitam sem alarde os porões da mídia, porões cercados de eletrônica e vidro fumé. Dotados de uma inteligência acima da média (e de polpudos orçamentos!), sabem cooptar os melhores profissionais, músicos e diretores de imagem, de modo a produzirem mensagens publicitárias que levem o consumidor (é o nosso caso…) a comprar.
Assim combinado, o objetivo deles é… vender! Para vender, vale tudo: o verde da paisagem rural, o ar puro da montanha, a força monstruosa dos motores, as curvas sensuais da modelo, as promessas de um Éden no aquém-túmulo.
Esse exército do marketing e do merchandising (e outros babados ianques), devidamente armado de som e imagem, conta ainda com a retaguarda de estudiosos da psicologia do indivíduo e da psicologia social. Em suas planilhas, o mais detalhado raio-X do coração do homem. É com base nesse design de Adão, o barrento, que eles criam suas mensagens conhecidas como “o comercial” – quase sempre mais criativo que os programas por ele fatiados.
E que pensam eles sobre nós? Bem, até onde as mensagens veiculadas deixam supor, eles pensam que somos gulosos. Examine bem um comercial da Sadia. Eles pensam que somos levemente depravados em nossa sexualidade. Contemple a saia curta da mocinha que vende cerveja. Eles pensam que somos vaidosos. Leve em conta os comerciais de perfumes, cremes e xampus. Eles pensam que somos movidos pela cobiça. Tente contar a variedade de propostas para ganhar dinheiro…
Peço licença para não completar a lista dos pecados capitais, incluindo a inveja, a preguiça e a avareza. De qualquer modo, é tudo isso que eles pensam de nós. E se a linguagem empregada pela mídia-que-vende revela profundo desrespeito pelo pobre (que não compra…), pelo homem comum (podado pelo salário mínimo), pelo simples cidadão, isto é mera consequência de seus objetivos.
E “eles” estão errados? Talvez não. Pode ser que, de fato, nós sejamos exatamente aquilo que eles pensam de nós (em ordem alfabética): avarentos, gulosos, invejosos, lascivos, preguiçosos, raivosos e vaidosos.
Se somos assim, eles vendem bastante. Se não fôssemos, já teriam ido à falência…
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