Foto: Intelliplan
Passando na entrada de uma fábrica, li a estranha placa: “Temos vagas. Preferência para cristãos”.
Na volta, reli o anúncio e resolvi parar e procurar pelo gerente. Fui bem recebido e lhe perguntei o motivo da “preferência”. A empresa estava ligada a alguma organização religiosa? Por que motivo preferiam cristãos como empregados.
O gerente sorriu. Disse que não pertenciam a nenhuma religião, mas era de fato uma corporação multinacional. E explicou:
– Com o tempo, nós observamos que os operários cristãos destoavam do conjunto dos empregados. O cristão é mais pontual, só falta ao trabalho por motivos sérios. O cristão não costuma ficar enrolando, matando tempo. Ao contrário, se termina sua tarefa, ajuda os companheiros em trabalhos que não teria obrigação de realizar.
O gerente deve ter lido minha cara de surpresa e prosseguiu:
– Tem mais: nas equipes de trabalho formadas por não cristãos, é comum a disputa pelo poder, a formação de partidos, chegando mesmo a sabotar o trabalho dos colegas para ocuparem o posto deles. Frequentemente há desencontros, maledicência, acusações mútuas. Já nas equipes de cristãos é alto o nível de colaboração, são raríssimas as discussões e desentendimentos.
– E não é só isso – continuou o gerente. Enquanto o operário comum vive se queixando de seus salários, os cristãos se declaram contentes com sua remuneração. É por tudo isso que estamos dando preferência a funcionários que fazem parte de alguma denominação cristã. No fundo, somos pragmáticos e visamos aos interesses da empresa. Dá para entender?
* * *
Claro que dá para entender. Pena que isto seja uma página de ficção. Não veremos a tal placa em lugar algum. Mas deveríamos ver! Se os que se dizem cristãos vivessem de fato o Evangelho, eles seriam os preferidos em todos os cantos. Como seguidores do Evangelho, estariam praticando aquelas virtudes recomendadas pelo apóstolo Paulo aos fiéis da Galácia: alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, lealdade, mansidão, domínio próprio (cf. Gl 5,22).
Ou aquelas recomendações que Paulo faz aos cristãos de Éfeso: nada de palavrões ou conversas tolas, nem de piadas de mau gosto (cf. Ef 5,4). E ainda os conselhos dados aos fiéis de Colossos: suportai-vos uns aos outros e, se um tiver motivo de queixa contra o outro, perdoai-vos mutuamente (cf. Cl 3,13).
Ora, quando um trabalhador que se diz cristão comporta-se, na prática, como um pagão qualquer, ele se nivela ao progressivo nível de barbárie reinante na sociedade e… deixa de ter a “preferência” que poderia ter.
E, uma vez nivelados, compartilham todos das mesmas conhecidas virtudes capitalistas: ambição, individualismo, ânsia de sucesso, competição, indiferença pelo outro, insatisfação e mau humor.
Não admira que o local de trabalho se transforme em uma filial do inferno! Já vão praticando as “virtudes” que os levarão ao inferno definitivo…
Sucesso!
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