Remorso

Publicado por Carlos Bitencourt Almeida 27 de julho de 2010

Tem momentos em nossa vida que podemos dizer ou fazer algo que tenha consequências trágicas ou destrutivas para outras pessoas ou para nós. Pode ser um ato que nasça da raiva, do ciúme, da cobiça, do desespero, do desejo sexual, de uma negligência preguiçosa ou de um estado de embriaguez. Podemos causar a morte de alguém, ferimentos graves, podemos matar pessoas, destruir um casamento – o nosso ou de outra pessoa -, traumatizar uma criança ou nos enrascarmos em situações que tenha consequências jurídicas desfavoráveis para nós. São situações onde somos culpados, não há como negar.

Para algumas pessoas isto pode ser fonte de remorso que pode durar muitos anos. A pessoa se martiriza, se condena, se despreza, tem nojo ou ódio de si. É como uma nuvem escura que passa a cobrir a vida da pessoa. A alegria seca e a pessoa se sente indigna de ser feliz.

Pode parecer que esta atitude seja correta. Se o indivíduo tem culpa, é bom que assuma. Assumir a culpa é uma coisa, destruir-se por causa dela é outra. A pessoa se arrepende de ter sido a causa da destruição de algo ou alguém e se pune destruindo a si próprio, perdendo o gosto pela vida. O oposto de destruir é construir. O erro cometido tem de ser reparado e não apenas lamentado. É claro que existem situações sem retorno. Não há como reparar, compensar, apagar o que foi feito. Mas se eu não posso construir algo para esta pessoa que eu prejudiquei, eu posso construir para outros. Se eu fui irresponsável e mesquinho, posso me esforçar dia a dia para tornar-me responsável e generoso. Isto é uma reparação, não para aquela pessoa, mas para a sociedade na qual eu vivo. Aquele que se envenena no ódio a si próprio, na amargura, na depressão crônica faz mal a si e ao meio onde vive. Irradia uma atmosfera nefasta, psiquicamente insalubre.

Às vezes o ódio a si próprio pode ser uma forma de preguiça. Eu me destruo porque não quero me dar ao trabalho de reparar o que fiz, agir. Tornar-se um ser humano construtivo, responsável, solícito, persistente, generoso, alegre, é muito mais útil, muito mais reparador do que cozinhar-se no remorso. Perdoar a si próprio é necessário, mas não basta. Seria demasiado cômodo. Errei, me perdôo, e de novo repito o erro. O perdão a si mesmo só é ato moral, ético, se é seguido de uma firme atitude reparadora e de autotransformação. Todos estamos sujeitos a errar, mesmo gravemente. É na atitude que assumimos perante nossos erros que revelamos nosso caráter, nossa índole ética.

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