No hospital

Publicado por Antonio Ângelo 17 de agosto de 2021

No Hospital

Professor, eu agradeço

dos remédios o acerto

as meizinhas é bem certo

me darão algum sossego


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Ah! no ror de comprimidos

não esquece as vitaminas

que este corpo franzino

cada vez mais se amofina


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Calmantes, muito bem vindos

que a noite é um sacrifício

anda o sono desgarrado

me deixando aperreado


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Inclui aquela poção

especial pro coração

que o infeliz pula no peito

de jeito que não tem jeito


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Histórias pra relatar?

Isto é o que não me falta

mas longe de mim o abuso

do seu tempo fazer uso


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Histórias da juventude

de estradas e folias

quando com força e atitude

do pouco muito fazia


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Tem historias de paixão

onde se perde o juízo

morenas que num sorriso

nos trazem na sua mão


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Elas, Marias e Terezas

de longos, negros cabelos

cadeiras de desassossego

de entregas sem avareza


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Nesta cidade aqui mesmo

estive perdido a esmo

em labor sem redenção

pra família dar o pão


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O cachorro que eu tive

o cavalo marchador

a viola em canto livre

nas rédeas soltas do amor


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Ao final, coisas pequenas

que pequena é mesmo a vida

mas se o senhor não duvida

é mesmo o que vale a pena


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Rege o futuro, doutor

se logo eu não me for

de muito mais revelar

quem sabe n’outro lugar


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Mas fico agora calado

e paro de importunar

pois mesmo aqui do lado

está o vizinho sem ar

 

Comentários
  • Wesley 834 dias atrás

    Como sempre, vislumbra-se aqui a cortina (finíssima) de ironia, que o poeta AA sabe tão bem antepor aos vitrais do cotidiano. Um cotidiano que lhe é muito comum, por sinal, tanto no afazer profissional como na lavra palavra. Aleluia!

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