Os Chineses estão Chegando …

Publicado por Antonio Carlos Santini 2 de junho de 2010

Leio a manchete fria do jornal: “Faltam engenheiros, eletricistas… Mão de obra é o principal gargalo”. [“O Globo”, 23 de maio.] A CBN repete a informação: “Professores da rede estadual estão em greve há 47 dias em Minas Gerais”. E o mesmo jornal insiste: “Apenas 25% dos brasileiros estão em condições de serem capacitados”…

Será este o gigante que acordou? Será este o país que ganhará mais uma Copa do Mundo e, em conseqüência, tentará cobrir com um véu todo o nosso raquitismo social? As imagens do estádio mostram o torcedor uniformizado, bandeira na mão, boca sem dentes. Na portaria das fábricas, a tabuleta oferece vagas. Mas os candidatos não estão habilitados. Nem o serão, incapazes de ler um manual de operações…

Lembrei-me de 1970, quando 90 milhões em ação celebravam a vitória sobre a Itália. Na época, eu lecionava e ajudava a coordenar um Curso Técnico de Química. O currículo original oferecia aos estudantes nada menos que 13 aulas semanais da disciplina principal, entre Química Orgânica, Inorgânica e práticas de análise qualitativa e quantitativa no laboratório. Aprendia-se Química de verdade.

Aí, veio um decreto do Governo Militar, mandando incluir no currículo disciplinas aromáticas como Educação Moral e Cívica, Organização Social e Política do Brasil, Psicologia do Trabalho etc. Cada espaço ocupado pela propaganda do Governo roubava do aluno mais uma aula da Química que poderia prepará-lo para a vida profissional.

Não admira que, passados 40 anos, faltem trabalhadores para a indústria, o que justifica o grande número de técnicos chineses importados por nossas empresas. O Clube de Engenharia protesta com a importação, mas devia, antes, avaliar a qualidade dos engenheiros formados em nossas baiúcas universitárias.

Lembrei-me também das escolas profissionais mantidas pela EFCB – a Central do Brasil, até os anos 60. Veio a proibição governamental e os adolescentes já não podiam ser treinados nas oficinas que, até então, formavam fresadores e torneiros-mecânicos de qualidade. Os garotos aprendiam a trabalhar com polegadas, adquiriam disciplina e eram logo admitidos e bem remunerados. Com a proibição, voltaram para a rua…

A história do ensino no Brasil é de fazer chorar. De tempos em tempos, um burocrata do Ministério da Educação decide mudar tudo, adotam-se teorias estrangeiras, importam-se métodos não testados que logo irão para o lixo.

Ah! Que saudades das aulinhas de Dona Maria Conterni, que ensinava a ler e escrever, ditado e cópia, caligrafia (legível e estética!) e tabuada de memória, frações e regra de três. Os moleques saíam para a vida com um “doutorado” que supera muitas faculdades deste início de século!

Hoje, proliferam faculdades que distribuem diplomas pagos e analfabetismo profissional, como essas escolas de Direito cujos alunos terão dificuldades em ser aprovados nos exames da OAB. Estudantes de Filosofia que não conseguem acertar a concordância do verbo com o sujeito. Engenheiros que vivem agarrados à maquininha de calcular…

Pobre Brasil! Triste Brasil! Lamentável Brasil! Os chineses estão chegando…

Comentários
  • Milton Alberto Albuquerque 4913 dias atrás

    Santini,

    Infelizmente. Seu comentário é verdadeiro:”Hoje, proliferam faculdades que distribuem diplomas pagos e analfabetismo profissional, como essas escolas de Direito cujos alunos terão dificuldades em ser aprovados nos exames da OAB. Estudantes de Filosofia que não conseguem acertar a concordância do verbo com o sujeito. Engenheiros que vivem agarrados à maquininha de calcular…”.
    Trabalho com Auditor Fiscal de Tibutos Estaduais. Tenho colegas pós graduados. Com curso de mestrado e até doutorado.
    Quando chega na hora de solucionar problemas mais complexos recorrem a mim. Logo eu que só possuo o 2º gráu. Já tenho 40 anos de serviços como Auditor Fiscal. Fico pensando. Eu aprendi o que hoje muitos não conseguem aprender. Vejo a fragilidade de raciocínio de alguns colegas.
    Agora lendo seu artigo. Lembrei-me de D. Mercedes, D. Lourdes, professor Francisco Alves, Padre Guilherme e outros e descobri porque eu tenho, graças a Deus, capacidade de raciocinar e estar sempre aprendendo no desempenho da própria profissão.
    Um abraço
    Louvado seja o Deus Pai, Filho e Espírito Santo.

    Milton Alberto Albuquerque – Sete Lagoas – [email protected]

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