Deus tem problemas

Publicado por Antonio Carlos Santini 27 de agosto de 2012

Sim, Ele tem problemas. Muitos problemas. Deve ser por isso que Deus não tira férias. Está sempre ocupado.

Quais problemas? Ora, são inumeráveis. Por exemplo? Em vários pontos da extinta União Soviética, existem ogivas atômicas em silos subterrâneos. Só que os mapas indicativos de sua localização foram extraviados. Ninguém sabe mais onde estão os petardos. Se caem em mãos inadequadas, teremos uma bela exibição de pirotecnia. Isto é um problema para Deus…

Quer mais? O Criador quis que a geração de vidas humanas fosse inseparável de um gesto de amor. Ela devia acreditar que nascer de um abraço tornaria mais suave nossa experiência terrestre. Hoje, parece que falta amor e precisam apelar para provetas e buretas. Recente pesquisa feita na Itália, junto a 100 mulheres idosas, revelou que apenas 48 delas tinham netos. Não é um problema para Deus?

Não quero me alongar na demonstração da embaraçosa tese, mas apontar em outra direção. Se Deus tem tantos problemas – e tem! -, por que é que os frequentadores de templos levam ainda mais problemas para o Senhor?

Concorda comigo? Experimente entrevistar, à porta da igreja, a longa romaria de fiéis (?) que comparecem ao culto. Faça apenas uma pergunta:

Por que você veio à igreja?

Como resposta, o amigo ouvirá uma longa ladainha: meu filho está no hospital / meu pai sumiu de casa / vai começar o vestibular / amanhã sai o resultado de minha biópsia / fui demitido / vou fazer entrevista para o novo emprego / meu cachorrinho fugiu…

Claro: todos estão à espera de que Deus mexa uns pauzinhos, faça um milagrinho, inverta a ordem natural das coisas e… quebre o galho de todos os fiéis.

Ora, os problemas de Deus são muito maiores! Que faria Ele para reflorestar a Amazônia? Como resfriaria o aquecimento global? Como iria amolecer o coração mineral dos governantes que desviam as verbas da merenda escolar para construir castelos? Como impediria as mulheres grávidas de queimar com ácido o filho que ainda está em seu ventre?

Enquanto isso, nos bancos envernizados da igreja, os fiéis estão pedindo vingança contra seu agressor, clamando pelo fogo do céu sobre os vizinhos incômodos, solicitando secretamente as dezenas da loto ou – pelo menos – uma aposentadoria digna e bem remunerada.

Lá fora, mendigos passam fome, crianças são jogadas no lixo, anciãos desidratam nos asilos em ruína, pacientes sangram no corredor dos hospitais.

Ainda espero pelo dia em que os fiéis entrarão no templo, estenderão as mãos vazias e dirão a Deus:

Senhor, aqui estou. Em que posso ajudar?

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