Férias de julho

Publicado por Sebastião Verly 22 de junho de 2016

férias de julho

Despertado para o tempo que corre, percebi que chegamos ao meio do ano. Julho está batendo na porta.

Quando criança, no curso primário, adorava quando chegava o mês de julho. Era período de férias e as professoras nos incentivavam a respeitar o descanso: “todos os livros, lápis e penas, alegres, vamos guardar”, cantavam na véspera (alguém poderá lembrar-se de toda a letra e até da musiquinha).

Na cidade de Pompéu, naquela época, com poucos mil habitantes, e com as condições de vida vigentes, nas férias, o máximo que se conseguia era visitar um familiar num sítio ali perto. No mais, sobrava tempo para as brincadeiras e até para ganhar um dinheirinho. Havia sempre alguma coisa para vender. Quando rareavam as verduras, havia alguém na vizinhança que nos ofereciam para vender doces e bolos. Foi aí que aprendi porcentagem: ganhava 20% do vendido. Às vezes, comia um pedaço do produto que vendia e diminuía a minha renda. Mas, tudo bem.

Continuo a falar de férias. Nos anos 1949, 1950, era costume as professoras pedirem para que os alunos escrevessem como foram suas férias. No terceiro e quarto ano primário, últimos da série, a gente já ficava atento para observar o que narrar em sala de aula. As descrições eram lidas pelo autor e havia sempre quem comentava ter tido alguma passagem igual ou semelhante. Era agradável contar.

Assim, eu prestava atenção em tudo. Queria ter mais o que contar. E contava até as visitas que iam à nossa casa. Aprendi a encontrar o bom e o belo em todas as oportunidades. Floreava à vontade.

A mais marcante exposição sobre férias em minha memória, veio da colega Maria da Conceição Louzada, já no curso ginasial, na época, denominado curso secundário.

Preta, como carinhosamente a chamávamos, contou-nos da viagem que fizera creio que com o pai, para a Bahia. Viagem de ônibus, cheia de histórias e situações que despertaram sua atenção. Viagem cheia de aventuras com uma série de acontecimentos variados e novidades para a nossa colega.

Naquele ano de 1958, era uma verdadeira odisseia fazer uma viagem de Pompéu a Salvador, em um daqueles carcomidos ônibus interestaduais e em estradas de terra poeirentas e esburacadas. Ela descrevia que, apesar de tudo, era fantástico estar dentro de um ônibus rodoviário olhando pela janela as paisagens do Brasil. E detalhe: a viagem era desconfortável, com poltronas fixas e duras, um calor insuportável. O único vento que existia, entrava pela janela junto com o sol.

A Bahia parecia ser muito maior do que ela imaginava. O ônibus amanhecia, chegava a hora do jantar e ainda estava em território baiano. Ficou na minha memória as paradas para o café, almoço e jantar, durante três dias com bastantes casos para trazer para a vida pessoal e enfeitar para os amigos. Parece que tinha de tudo naquela viagem, dentro do ônibus: toalhas de banho penduradas, travesseiros, sacolas com comidas, biscoitos, bebidas, gente suando naquele calor, crianças chorando e até casais, que parece, estavam em lua de mel.

Lembro quando ela contava no café da manhã, creio que uma parada foi em Milagres (a memória me trai), onde o que havia para comer era carne de sol, farofa e bolo. Café puro. Preta contava com tantos detalhes que a gente ficava até com pena dos viajantes. Os lugares eram pobres mesmo. Higiene nem pensar. Os banheiros indescritíveis. Não me lembro bem a descrição nas suas palavras, mas ficou a ideia de degradação completa.

Durante sua narrativa, eu relembrei daquelas sugestões das professoras primárias que nos orientavam a ver o que havia de bom e de melhor aonde fossemos. Mas, aquela observação deve ter valido muito mais para a Conceição, minha grande paixão na adolescência. Depois, Conceição mudou-se para a capital e fez um curso secundário que lhe possibilitou passar no vestibular da UFMG, onde cursou Sociologia. Aprendeu a perceber o social com métodos científicos e a ver com mais sensibilidade a realidade brasileira.

Hoje, a Preta é professora universitária e deve ter muito mais para discutir com seus alunos. Sempre foi muito atuante e inteligente.

A viagem, hoje em dia, é, normalmente, em ônibus com poltronas reclináveis e até leitos, com banheiros higiênicos e os pontos oferecem uma variedade maior de todo tipo de bebidas e comidas, doces e salgados.

Valeu minha querida colega pelas lembranças tão agradáveis que minha memória quis guardar.

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