Concesso, figura popular em Pompéu

Publicado por Sebastião Verly 30 de outubro de 2025
Concesso foto 1

Concesso foto 1

A população de Pompéu da mesma forma que em todo o Brasil até 1940 era predominantemente rural e a partir daí houve o êxodo para as cidades, a agricultura foi se modernizando econômica e tecnicamente e as pessoas se mudaram para as cidades em busca de escolas para os filhos e oportunidades de trabalho. Nas décadas de 50 e início dos anos 60 era comum aparecerem pessoas que ali chegavam da zona rural ou de outras cidades se incorporando à vida local.

Um fato interessante foi o aparecimento na cidade do Concesso, vindo da zona rural com sua família. Concesso de Castro Machado era filho de José Luiz de Souza Machado e Conceição de Castro Machado. Casou-se com Nadir Maria de Campos, da vizinha cidade de Papagaios com quem teve dois filhos, Luiz Carlos e José Luiz. Na cidade empregou-se como funcionário braçal do Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais, que mantinha um modesto Conjunto Habitacional no Bairro Volta do Brejo na periferia da cidade onde se instalou com a família. Nosso personagem não tinha maiores conhecimentos formais, mas era detentor de uma sabedoria e presença de espírito que a todos impressionava.

Ficou bastante conhecido na cidade, primeiro por ser extremamente religioso, mas principalmente porque tinha o hábito de comparecer a todos os funerais, do velório ao sepultamento, puxando o cortejo fúnebre, que naquela época era a pé, puxando o terço em voz alta com um rosário de grandes contas nas mãos. Algumas vezes os parentes do morto iam buscar a presença do padre, que delegava suas responsabilidades ao Concesso.

Possuía um jeito próprio de se vestir, nunca abria mão do paletó de brim caqui, mesmo estando em pleno verão no clima sempre quente de Pompéu. Não lhe faltava o chapéu e as botas de estilo gaúcho.

Frequentava a casa de famílias respeitáveis especialmente na região da Volta do Brejo. Era uma pessoa muito especial, conhecido pela simplicidade e caridade, sobretudo na questão dos velórios e funerais de pessoas pobres. Com o dinheiro que arrecadava para tal fim, ele servia café com quitandas no período diurno, mas quando varava a noite não podia faltar a boa cachaça, diga-se dois pontos fortes de Pompéu, cidade até hoje reconhecida pelas qualidade das suas quitandas e cachaças. Na morte de pessoas mais pobres, ele saia pelas ruas da cidade com uma folha de papel almaço, pedindo um adjutório para realizar o enterro. Nos velórios, além de provedor era organizador e animador.

Consta que num determinado velório, numa noite fria, ele pediu que cada um dos presentes contribuísse com um trocado para comprar a tradicional cachaça. A viúva do finado depois de vasculhar seus guardados nos fundos da casa veio gentilmente com uma nota de dois cruzeiros para participar, quando o Concesso obtemperou: “Da senhora não vou aceitar, a senhora já entrou com o principal que é o defunto!”

Na cidade, nos bares e nos botecos, ele costumava declamar “O pavão misterioso”, cordel nordestino de origem medieval que corria o Brasil todo. Nisso, ele foi seguido pelos dois filhos que também se iniciaram na arte de declamar.

Concesso fazia parte da confraria dos vicentinos, a Sociedade São Vicente de Paula que mantinha a Vila Vicentina e ali ele era muito simples, não tinha seguidores, mas simplesmente confrades.

Um de seus filhos, Luiz Carlos ou Carlinhos mudou-se para João Pinheiro no Noroeste do Estado onde foi tomar conta de uma fazenda, isso por volta de 1967. Depois passou a fazer parte de um assentamento rural chamado Campo Grande, onde no início era um dos dirigentes, mas hoje, aos 76 anos, continua por lá, apenas “criando seu gadinho”. Aproveitando o assunto, diga-se que muitos agricultores pompeanos migraram para o Noroeste do Estado nas décadas de 1950 e 1960, principalmente para João Pinheiro e Unaí, que eram a nova fronteira agrícola aonde se encontravam terras de menor valor e mais ofertas de trabalho. Os pompeanos também eram conhecidos como carvoeiros, que desmatavam o cerrado para implantar fazendas principalmente de criação de gado. Mas com a construção de Brasília que representava um grande mercado de alimentos a região conhecida pela abundância de água passou a ser também um celeiro agrícola.

O outro filho de Concesso, que como o avô se chamava José Luiz, inseparável como todos os pompeanos de sua bicicleta que ele chamava afetuosamente de “camelo”, amealhou uma grana vendendo ‘jogo de bicho”, mudou-se para Belo Horizonte onde viveu por algum tempo, mas depois de ter quebrado uma perna passou a viver em cadeira de rodas e voltou para Pompéu onde foi acolhido em uma casa para idosos e vivia de venda de rifas e loterias.

Dizia-se que, como Concesso ia em todos os velórios e funerais da cidade, deveria contar com a presença em seu enterro de toda a população de Pompéu. Mas, devido a idade avançada, já não poderia viver sozinho, Concesso também se mudou para João Pinheiro por volta de 1986, onde passou a viver com o filho Carlinhos no assentamento.

Viveu até os 90 anos, em 2009 descobriu-se uma doença, foi levado para Belo Horizonte onde foi internado no Hospital da Previdência do Estado. Três meses depois veio a falecer e os filhos decidiram enterrá-lo mesmo na capital mineira, mais precisamente no Cemitério da Paz. Pela distância da cidade natal e de sua última morada muito poucas pessoas compareceram a seu sepultamento. Imaginamos como ele deve ter sentido falta do terço, das quitandas, da boa cachaça e principalmente de alguém para animar o ambiente.

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