Barbeiros de antigamente e da atualidade, nostalgia e modernidade – parte I

Publicado por Sebastião Verly 7 de julho de 2025
Barbeiros Ambulentes
Barbeiros Ambulentes
Barbeiros Ambulantes

Esta Crônica sobre os barbeiros de antigamente e os de hoje traz muita nostalgia e captura a essência cultural e social de cada época. Antes de falar dos barbeiros da minha cidade de Pompéu, achei por bem contar um pouco da profissão pelos séculos afora.

História

Os barbeiros antigos eram profissionais que cortavam cabelo e barba, mas também realizavam procedimentos cirúrgicos e odontológicos. Eram conhecidos como “cirurgiões-barbeiros”.

Os primeiros barbeiros surgiram no século II a.C.; Na Idade Média, os barbeiros eram uma mistura de cortadores de cabelo, médicos, curandeiros e cirurgiões. No século XIII, formaram-se guildas oficiais de barbeiros, onde os profissionais eram treinados em cirurgia e anatomia. Os barbeiros eram procurados para resolver dor de dente e uma série de doenças através da extração, da sangria ou das sanguessugas, usadas principalmente para cicatrizar feridas: “As nojentas sanguessugas ficavam expostas em vidros, na vitrine da barbearia do sr. Moura. Os médicos pediam-nas e o sr. Moura enviava. Eram colocadas nos doentes, na parte onde deveria ser tirado o sangue. Agarravam-se à pele, geralmente do braço, pernas, nádegas, ou costas, chupavam o sangue e se intumesciam, quando fartas do repasto hemofágico, soltavam-se, se fosse necessário, punham-se outras no mesmo local, para tirar mais sangue.”

“Aqueles que possam estar imaginando que esta citação data de séculos passados enganam-se. A referência é Belo Horizonte no início do século passado. O sr. Moura foi um barbeiro conhecido no início do século XX em Belo Horizonte e descrito como “muito simpático, de cavanhaque e cartolinha, que criava as sanguessugas e as aplicava para sangria. Tinha isso anunciado no jornais”. Além de se ocupar em fazer as barbas e cortar os cabelos de seus clientes, prestava o serviço de alugar as sanguessugas para médicos e clientes em geral. O sr. Moura atuava na cidade, em 1900, e, provavelmente, era o único a desenvolver tais serviços e atividade comercial.”

“As barbearias e os barbeiros ambulantes tomavam conta da paisagem do centro do Rio de Janeiro no século XIX. Ofereciam serviços que iam desde aparar a barba até pequenas cirurgias. A maioria da população não tinha acesso a médicos ou remédios e os barbeiros eram procurados para resolver dor de dente e uma série de doenças através da extração, da sangria ou das sanguessugas.”

Barbeiros cortavam cabelo e faziam barbas, realizavam cirurgias, sangrias e sanguessugas, faziam ventosas de fogo, edemas, extraíam dentes, manipulavam o pescoço, limpavam orelhas e couro cabeludo, drenavam furúnculos, fístulas, puncionavam cistos com pavios. Formavam uma das profissões mais comuns na área médica durante a Idade Média. A barbearia era um ponto de encontro importante para a comunidade. Os barbeiros muitas vezes eram confidentes e conselheiros dos seus clientes. Em suma: eram generalistas do corpo.

Pompéu, a partir da década de 1940.

A história dos barbeiros na cidade de Pompeu Minas Gerais começa com o profissional que ficou conhecido como Duca Barbeiro. Duca Barbeiro morava no bairro “Os Cristos”, ele vendeu a casa e se mudou para Belo Horizonte mais ou menos em 1947-48 depois disso ficou o Chico Belmonte.

Pela primeira vez meu pai me levava ao barbeiro. Eu fiquei encantado com a arte do Senhor Chico Belmonte com a navalha raspando a espuma que cobria toda a barba. Com algumas paradas o Seu Chico Belmonte passava navalha num miolo de pita de mais 35 centímetros para afiá-la. Com um pincel de quase 10 centímetros ele produzia mais espuma numa pequena baciinha de alumínio onde misturava sabonete “Lever” raspado e água à temperatura natural.

Acabando de escanhoar a barba de meu pai, chegou a minha vez. Chico Belmonte fazia o tradicional, mas eu estava inaugurando na cidade o cabelo raspado com topete, que mais tarde veio a ser o corte Príncipe Danilo. Com o pente zero na máquina raspava bem quase toda a cabeça.

Havia outros barbeiros fora do centro da cidade, mas não eram opções atraentes, eram mais restritos,  não eram abertos ao público, além de se criar uma intimidade entre cliente e barbeiro, em Pompéu dizia-se que o barbeiro sabia tudo da vida de todo mundo.

Quitinho era mais reservado e vivia lá num canto da cidade. Ele era portador de uma doença que o fazia dormir enquanto cortava cabelo, então ele costumava pedir ao cliente pra conversar com ele pra mantê-lo desperto. Certo dia seu colega de profissão o Sebastião foi visitá-lo e Quitinho perguntou-lhe se tocava violão, e ouviu a resposta de que ele “arranhava”, aí pediu pra ele tocar uma música, sentaram os dois ao lado um do outro, não tinha cliente no momento, Sebastião começou a tocar e ele dormiu profundamente encostando-se nas pernas do violeiro, que escorregou de fininho e foi se embora.

Na década de 1950, surgiu o Geraldinho Silva, que desdenhava da profissão. Ele dizia que cortava cabelo pra sobreviver, mas depois abandonou a profissão e abriu uma banca de revistas. Na década de 1960, apareceu o Geraldo Emílio e logo depois outros barbeiros.

Mais tarde, veio de Sete Lagoas o Eroque que se casou com uma moça de Pompéu e mudou para a cidade. Ele tinha fama de cortar muito bem cabelo e barba e o pessoal dava preferência pra ele. Como a esposa dele era parente de políticos, ele tinha uma clientela muito boa. Foi então que puseram na cabeça dele de candidatar-se  a vereador. Diziam pra ele que com 180 votos estaria eleito vereador e você tem muito mais do que isso! No ano da eleição ele fez um caderno onde anotava o nome de todos os cientes que prometiam votar nele e dava um corte de cabelo de graça. Quando chegou em 200 cortes ele falou com a mulher dele: Neusinha, eu já tenho 200 clientes que votam em mim, então você pode votar no seu cunhado e eu vou votar no fulano de tal (acho que era no Joaquim Xoxota), porque eu não preciso mais de votos. E assim fez… Domingo foi a eleição ele foi lá votou no candidato dele, a Neusa votou no dela. Na segunda-feira ele, apurados os votos, ele não teve nenhum voto! Zero votos! Eroque, então, começou arrumar as malas, desmontando o salão, alguém passou e perguntou o está mudando de lugar no salão: “estou indo embora dessa terra. Ô povo fingido não tive nenhum voto! Vou voltar pra Sete Lagoas!”, mas parece que não voltou não.

Sebastião José da Silva, o Tião da Ducha, é um dos barbeiros mais antigos. Atualmente ele está com 91 anos hoje ele não trabalha mais como barbeiro, mas eles tinha uma qualidade muito boa, ia nas casas de pessoas acamadas principalmente pessoas pobres, fazia a barba gratuitamente para as pessoas necessitadas. Sebastião atendia também na cadeia fazia o cabelo dos presos e mais recentemente numa comunidade terapêutica (Fazendinha), fazia o cabelo dos internos.

(continua na parte II)

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