Algodão, o ouro branco do Brasil

Publicado por Sebastião Verly 25 de agosto de 2015

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Hoje é mecanizada, mas a colheita, quando era feita manualmente, proporcionava muita alegria, era uma festa! Dezenas de trabalhadores tinham naquela oportunidade uma boa fonte de renda. Hoje, a plantação do algodão ocorre em poucas regiões do país.

É uma plantação maravilhosa e tudo começa com o plantio das sementes, todas elas com fiapos do pelo que lhes restaram depois do descaroçamento.

Nascidos os pezinhos de algodão, são necessários cuidados, como a capina por capinadeira mecânica, puxada por trator ou tração animal. A capina entre pés, também chamada tirar entremeios, era feita manualmente, com enxadas, de forma que lhes permitia crescer fortes e sadios.

Depois, era comum nos algodoais a praga da lagarta rosada que era combatida com o Rodiatox aplicado com pulverizadores levados nas costas do trabalhador. O veneno é altamente tóxico e exige muito cuidado na hora da pulverização.

Chega a hora da florada, que fica uma beleza, o campo de algodão, como é conhecida a área do plantio, fica todo amarelo e apresenta um espetáculo singular.

Das flores nascem as maçãs do algodoeiro, que vão amadurecendo, e dela nasce o “capucho” branquinho que é o algodão.

As maçãs, quando bem madurinhas, antes de abrir em capucho, contêm um suco doce e nutritivo. O trabalhador que era pego chupando uma maçã de algodão era advertido pelo feitor ou pelo dono da plantação.

Cada trabalhador ou trabalhadora usava um saco preso à cintura denominado “cumbá”, que ia sendo arrastado à medida que nele era colocado o algodão colhido, capucho a capucho. O catador ia caminhando e, com as duas mãos, colhendo cada capucho.

O cumbá, especialmente quando usado por homens era preso por um artificio simples que consiste em colocar duas maçãs graúdas passadas sob o cinto, que pelo seu tamanho segura o saco. As mulheres, especialmente quando usavam vestidos, amarravam o cumbá com uma cordoalha, com embira de bananeira ou de alguma outra árvore que fornecia a casca para amarrar.

Lado a lado nos eitos, carreiras ou fieiras, apanhadores de algodão conversavam, cantavam e brincavam uns com os outros enquanto catavam. A colheita era levada a sério e o pagamento feito pelo peso colhido.

Nas idas e vindas para o campo de algodão, as brincadeiras eram bastante alegres e tudo parecia uma festa. Em geral, os trabalhadores gostavam de começar a faina bem cedo, quando o algodão, molhado pelo sereno, pesava um pouco mais. Ilusão.

Me lembro que a gente caminhava quatro a seis quilômetros para chegar à lavoura de algodão. Era comum chegarmos ao alto de onde se via o algodoal lá pelas 4 ou 5 horas da manhã com lua clara no céu, um espetáculo indescritível. Bem na nossa frente se estendia um imenso tapete alvíssimo, um panorama que ficava para sempre nos nossos olhos.

Lá pelas nove ou dez horas, uma paradinha para o almoço, marmita trazida de casa. Havia uns poucos trabalhadores vindos de outras cidades que conseguiam autorização para armar um ranchinho na beirada da lavoura e ali, num fogãozinho improvisado, preparavam sua “bóia”.

Alguns mais animados esticavam a jornada de trabalho ao máximo que podiam. Para isso, conseguiam autorização para dormirem em cima do algodão colhido, que era depositado em um enorme galpão denominado rancho do algodão.

Ali, dormiam com a roupa da lida, do jeito que trabalharam o dia todo, homens mulheres e crianças, sim, crianças de sete anos em diante também colhiam algodão, e pela manhã faziam, em um fogãozinho feito com pedras soltas, uma comidinha com mantimentos, feijão, arroz e linguiça, trazidos na véspera.

O rancho, em que o algodão era guardado, não possuía nenhuma condição sanitária e para banhos e necessidades fisiológicas, usava-se um córrego mais próximo e o mato. Mas tudo era normal ou parecia ser.

Naquele tipo de trabalho, eram comuns romances começarem e até relacionamentos mais íntimos aconteciam.

No final de semana, os proprietários da lavoura, muitos dos quais eram arrendatários, efetuavam os pagamentos pelo produto colhido, que era, ao final de cada dia pesado e anotado.

O algodão era ensacado ali na frente do depósito e chegavam os caminhões que o levavam para os centros maiores onde seriam descaroçados e encaminhados para as tecelagens.

Da cidade de Pompéu, antes de ter descaroçador local, o algodão colhido era levado para Pitangui e Pará de Minas, cidades mais antigas da região.

As ramas do pé de algodão, depois de uma cata final, eram arrancadas e feitas coivaras para a queima ali no meio do terreno vazio.

Hoje, tudo se tornou mecânico em todos os sentidos. Máquinas colheitadeiras arrasam o algodoal colhendo plumas, folhas e as maçãs secas tudo misturado. A qualidade do algodão colhido pelas máquinas deixa a desejar.

A farra da colheita manual ficou nas lembranças de quem viveu aqueles bons momentos. A gente trabalhava com prazer. Erámos felizes e não sabíamos.

Comentários
  • verly 3339 dias atrás

    MUITO OBRIGADO. GOSTEI MUITO.
    TIÃO

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