A Revolução dos Cravos – parte II

Publicado por Sebastião Verly 27 de abril de 2021

A Revolução dos Cravos – parte II

A Contra Revolução de 25 de Novembro de 1975

A Revolução dos Cravos, não se pode resumir ao dia do golpe, 25 de abril e sim a um processo histórico de quase dois anos: é considerado por alguns historiadores como o momento mais democrático da história de Portugal. A democracia de base que vigorou, enraizada nos locais de trabalho e bairros, colocou qualquer coisa como três milhões de pessoas participando, não por delegação de poderes de quatro em quatro anos, mas dia a dia como a sociedade deveria produzir, ser gerida. Nunca tanta gente decidiu tanto em Portugal como entre 1974 e 1975.

A derrota da revolução, que começa a partir de novembro de 1975 com a imposição da ‘disciplina’, isto é, da hierarquia, nos quartéis, é um balão de ensaio da chamada “contrarrevolução democrática”, teoria da transição democrática de inspiração liberal, ou seja, a ideia de que, pelo menos por um bom período, para derrotar processos revolucionários, as eleições e a democracia liberal eram preferíveis aos regimes ditatoriais. Segundo Boaventura de Sousa Santos Portugal é o primeiro exemplo de sucesso de uma revolução derrotada com a instauração de um regime de democracia representativa que, para se impor, teve de pôr fim à democracia de base, nomeadamente nos quartéis, fábricas, empresas, escolas e bairros.

Os sindicatos começavam a organizar a base democrática em 1974 e 1975 o que leva as elites e seus aliados sociais a preparar o golpe do 25 de novembro de 1975. A ideia de que o 25 de novembro foi uma ação militar contra os radicais e os moderados simultaneamente permanece válida. Obviamente o ataque oficialmente se dirigiu à extrema esquerda e teve o apoio dos moderados. Mas estes perceberam no próprio dia 25 de novembro que aquela ação militar se lhes ultrapassava. Tanto o novo chefe da Região Militar de Lisboa, Vasco Lourenço, quanto o Presidente Costa Gomes viram-se contrariados e assistiram passivamente à passagem do comando militar e político da situação ao conservador Ramalho Eanes. Não puderam eliminar o MFA da história das forças armadas, embora o eliminassem de sua estrutura. O dia 25 de abril tornou-se o dia da liberdade, os militares foram mandados de volta aos quartéis, o MFA foi extinto e a revolução tornou-se uma “evolução” dirigida pela agora recuperada burguesia. Mas não sem contestações populares. Como afirmou Vasco Gonçalves, o dia 25 de novembro coroou longo processo de mudança da correlação de forças militar e assumiu os contornos de uma provocação e de um golpe contrarrevolucionário.

A Revolução dos Cravos foi a última revolução europeia a colocar em causa a propriedade privada dos meios de produção permitindo a transferência de rendimentos do capital para o trabalho, o que permitiria o direito ao trabalho, salários acima da reprodução biológica, acima do “trabalhar para sobreviver”, acesso igualitário e universal à educação, saúde e segurança social.

Segundo o que se dizia na época, seria talvez a última revolução europeia onde se desenvolveria o controle operário de forma extensa. Existiu mesmo uma ampla discussão e confronto entre a autogestão, os trabalhadores serem “donos” da fábrica e o controle operário ou questionamento total da produção e a recusa em “gerirem a anarquia capitalista e serem patrões deles próprios”.

Segundo alguns historiadores conservadores a Revolução dos Cravos foi a ultima cena do teatro leninista na Europa!!!

https://www.youtube.com/watch?v=P_yTGEe8-K8

Tanto Mar – Chico Buarque

Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
E inda guardo, renitente
Um velho cravo para mim

Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto do jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar

Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim

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