O carvão no banco dos réus

Publicado por Antonio Carlos Santini 16 de junho de 2016
Usina a carvão lança fumaça na atmosfera na Alemanha, em foto de 2009. Novo relatório do IPCC deverá guiar reunião para reduzir emissão de CO2 (Foto: Martin Meissner/AP)
Usina a carvão lança fumaça na atmosfera na Alemanha, em foto de 2009. Novo relatório do IPCC deverá guiar reunião para reduzir emissão de CO2 (Foto: Martin Meissner/AP)

 

Alvo preferencial dos defensores do ambiente, devido a seu papel altamente poluente, a rocha negra ainda é o pilar da geração de eletricidade no planeta. Por que insistir no uso do combustível que ameaça a sobrevivência da humanidade?

O jornal “Le Figaro” publicou ampla matéria sobre o assunto, recordando que a revolução industrial do Séc. XIX teria sido impossível sem a queima do carvão, e ainda hoje, apesar de sua ação poluente, ele é amplamente utilizado tanto nos países desenvolvidos quanto nos emergentes.

Rocha estratificada de cor negra, formada pela acumulação de restos vegetais ao longo dos séculos, o carvão apresenta variedades com alto percentual de carbono combustível (mais de 70% no carvão betuminoso e na antracita). Após a extração e lavagem, ele é separado em função de seu teor de carbono para, a seguir, ser queimado, transformado em coque ou gaseificado. Seu uso principal ocorre em centrais termelétricas. 41% da eletricidade produzida no mundo têm esta origem. No ano 2000, representava apenas 23% da demanda mundial, mas a crescente demanda de energia justifica seu crescimento.

Produção e consumo

Em 2014, a produção mundial de carvão mineral superou a cota de 39 bilhões de toneladas, produzidas especialmente pela China, EUA e Índia. O maior consumidor é também a China, onde ocorre mais de 40% da demanda mundial, com extremos efeitos de poluição registrados no noticiário dos últimos anos. Em 2015, verificou-se uma redução no consumo, explicada estruturalmente pela baixa na produção de aço e de cimento, produtos industriais que mais dependem do carvão. Outros grandes consumidores de carvão são a Índia, os EUA e a Alemanha.

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O carvão virou réu preferencial nos tribunais verdes em razão da poluição que ele provoca, desde a mineração (com a geração de grandes quantidades de CO2 e contaminação dos lençóis freáticos) até o uso industrial. A rocha emite 3,5 toneladas de CO2 por tonelada de energia consumida, ou seja, 1,5 vez a mais que o gás e 1,3 vez a mais que o petróleo.
Considerados apenas os países do G7, estima-se que o custo das emissões de carbono pode chegar a 260 bilhões de dólares por ano até 2080, e até 450 bilhões de dólares até o fim do século.

Começa a reação

Não tem sido inútil a batalha dos ambientalistas. Algumas nações começam a ceder a suas pressões. Assim, a Noruega retirou os investimentos de seu fundo soberano das empresas de mineração e de grupos de geração de energia para os quais o carvão represente mais de 30% de seus negócios. Até a Igreja Anglicana – que gerencia 12,4 bilhões de euros em ativos – decidiu abandonar seus investimentos na energia proveniente do carvão.

A multinacional Total, uma das gigantes energéticas, prometeu retirar-se das atividades no mesmo setor. O Banco Crédit Agricole decidiu reduzir sua exposição no financiamento de centrais termelétricas que usam carvão. No entanto, tais anúncios podem não ir além de golpes midiáticos. É da Comissão Europeia que se espera por mudanças substanciais na questão do carvão. Recentemente, ela apresentou propostas para aumentar, até 2020, o preço da tonelada de carvão, de modo a desencorajar seu uso em favor do gás, menos poluente.

Um vento de esperança sopra da Ásia, pois a China – pressionada pelos altos índices de poluição do ar nos centros industriais – está obtendo importantes ganhos de eficácia na indústria elétrica, fechando velhas centrais e abrindo novas, mais eficientes e menos consumidoras de carvão.

O vento e o sol

Segundo informa a Rede Brasil Atual, com as estiagens de anos seguidos, a queda no nível dos reservatórios e o atraso na conclusão das usinas de Belo Monte, Santo Antônio e Jirau, as hidrelétricas brasileiras vêm perdendo espaço para as térmicas, que queimam óleo ou carvão e são muito mais poluentes. Estas já são responsáveis por quase um terço (29,7%) da atual capacidade instalada de energia no Brasil, segundo o MME.

Ao mesmo tempo, fontes de energia consideradas mais limpas, como a solar e a eólica, têm espaço e potencial para crescer no país, mas sua utilização em larga escala ainda depende da concretização de projetos e obras de infraestrutura.
Quanto à geração de energia eólica, segundo a Associação Mundial de Energia Eólica [WWEA em inglês], o Brasil registrou em 2014 o terceiro maior crescimento de mercado, atrás somente de Índia e Estados Unidos. O Brasil chegou ao fim de 2014 com 4.945 megawatts de capacidade eólica instalada e já em condições de operação comercial, de acordo com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE. O setor saltou de 90 usinas em condições de operação em 2013 para 195 este ano, o que representa um aumento de 117%.

No campo da energia solar, reportagem de “Carta Capital” registra que a capacidade instalada no Brasil, levando em conta todos os tipos de usinas que produzem energia elétrica, é da ordem de 132 gigawatts (GW). Deste total menos de 0,0008% é produzida com sistemas solares fotovoltaicos (transformam diretamente a luz do Sol em energia elétrica). Só este dado nos faz refletir sobre as causas que levam nosso país a tão baixa utilização desta fonte energética tão abundante, e com características únicas.

O Brasil é um dos poucos países no mundo, que recebe uma insolação (numero de horas de brilho do Sol) superior a 3000 horas por ano. E na região Nordeste conta com uma incidência média diária entre 4,5 a 6 kWh. Por si só estes números colocam o país em destaque no que se refere ao potencial solar.

Fica no ar a pergunta: quem tem interesse em manter o uso do carvão na geração de energia, quando existem alternativas mais sadias para o futuro da humanidade?

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