
Janeiro te espreita
quando pela estrada sais.
Fevereiro – de relance –
em alegorias te vejo esfuziante passar.
Março te faz segura, sólida,
por sóis ungida.
Em abril transpareces
vagando na sutileza de azuis e nuvens.
Compromisso me cobras em maio:
o que deixei de cumprir,
o que usufruí sem paga.
És – em junho – olvido, e não sei em que lareira
aqueces a frialdade de teus pulsos.
Julho te acompanha por longas estradas no altiplano,
margeadas por árvores esguias.
Levam-te estes caminhos aonde nascestes,
aos horizontes recuados, quase inalcançáveis
pelos dardos lançados através das retinas.
No inóspito agosto
ruminas sonhos irrealizados,
gestações abortadas.
Em desalinho caminhas entre os cômodos,
pálida de desilusões.
Setembro te rejuvenesce.
Exausta de esperas, refazes as forças.
Aos poucos tomas jeito,
te alimentas de frutos e germe,
retomas o ímpeto da carne.
Novembro, nunca me viste,
desconheces qualquer compaixão.
Simulas entregas, aspiras cristais,
fulminas com o olhar
o descuido em que me deparas.
Dezembro, és um rastro.
Qual mago no deserto, miro a estrela
que nenhum caminho me aponta.
Entre o tinir de taças e o afago de luvas
em mim sepultas a planta
que não chegou a florir.
Artigos Relacionados