Ilustração Benicio Cunha
É na varanda
que mais a falta lhe sinto.
A rede pensa, levemente a balouça a brisa,
as samambaias em cascatas,
vasos de flores sobre a mureta.
.
Ao fundo o quintal inventa histórias;
sombras, esvoaçar de pássaros,
as formigas sempre diligentes,
o fio d’água correndo rumo à horta,
o murmúrio farfalhante em meio às árvores.
.
À varanda no entanto não chega
a sua benfazeja presença
trescalando essências
que não vinham de nenhuma poção,
mas das claras axilas, de seus poros,
das madeixas que displicentemente lançava
alvoroçadas sobre as omoplatas.
.
Deito na rede à penumbra.
Mal diviso as telhas manchadas pelas décadas:
chuvas – ventos – canículas.
O caldo da noite extravasa entre as frestas;
fecho os olhos e em minha solidão
imagino passos adentro no assoalho.
.
Mas ninguém chega, ninguém chegará,
a não ser fantasmas a troçarem
de minhas descabidas alucinações.
Lembranças rondam em meu cérebro
qual imaginária nuvem viajando lá em cima,
oculta pela escuridão que encobre o mundo.
.
Para melhor me acomodar
reposiciono meu corpo
ao longo da rede.
Não sei se mais uma alucinação,
em pequena dobra do tecido
descubro ainda restos daquele cheiro
entre os fios esgarçados pelo tempo
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